Título: PT veta petista na direção do Conselho de Ética
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2007, Nacional, p. A6

O PT poderá abrir mão da presidência do Conselho de Ética e entregar o seu comando a um peemedebista. Esta é a solução que o comando petista está tentando construir para que o conselho não venha a ser presidido nem por Ricardo Izar (PTB-SP), candidato à reeleição, nem por José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP). A eleição para escolher o presidente do colegiado foi marcada para depois do carnaval e deverá ocorrer no dia 28 de fevereiro.

A presidência do conselho foi reivindicada pelo PT, mas os integrantes do chamado Campo Majoritário, principalmente aqueles que estiveram envolvidos no escândalo do mensalão, não querem nenhum dos dois candidatos. Os petistas do Campo Majoritário rejeitam o nome de Izar sob a alegação de foram ¿maltratados¿ durante os dois anos da gestão do petebista à frente do Conselho de Ética. Seis petistas foram condenados pelo colegiado, mas somente o ex-ministro José Dirceu (PT-SP) foi cassado pelo plenário da Casa. Já Cardozo não tem trânsito no Campo Majoritário, além de ser considerado ¿independente demais¿ dentro do PT.

O acordo que se tenta construir trabalha com a hipótese de convencer Cardozo e Izar a desistirem de disputar a presidência do conselho. ¿Não desisto da minha candidatura. Vamos para a briga. É a imagem da Câmara que está em jogo¿, avisou Izar. Cardozo também não gostou da idéia. ¿Soube pela imprensa que há quem defenda na bancada do PT que nós venhamos a abrir mão da presidência do Conselho de Ética. Acho estranha essa posição. Porém, se a bancada decidir isso, acatarei por mais estranho que me pareça.¿

NEGOCIAÇÕES

O ex-líder do PMDB Wilson Santiago (PB) seria um dos nomes cotados para assumir o comando do colegiado. O partido procura um lugar para encaixar Santiago, depois que ele foi derrotado por Osmar Serraglio (PMDB-PR) na disputa pela Primeira Secretaria da Câmara. ¿Ouvi comentários sobre isso. Mas não me chamaram para nada¿, afirmou Santiago.

A presidência do Conselho de Ética entrou nas negociações do PT com o PMDB na repartição das comissões permanentes e na eleição de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para presidir a Câmara. A vaga seria do PMDB, mas o PT pediu o cargo. Em troca, os petistas cederam a Procuradoria-Geral da Câmara para o PMDB, que já indicou para o cargo Alexandre Santos (RJ). Com o Conselho de Ética nas mãos, os partidos do governo controlam os órgãos de investigação da Câmara. A Corregedoria da Câmara, que tem entre suas funções o poder de decidir sobre a abertura ou não de processos contra parlamentares, está com o deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE), segundo vice-presidente da Câmara, aliado ao Palácio do Planalto.

VALERIODUTO

Considerada uma comissão de segunda categoria, o Conselho de Ética ganhou prestígio há dois anos, quando a CPI dos Correios aprovou relatório com o nome de 18 deputados que teriam recebido dinheiro do empresário Marcos Valério em troca de votos favoráveis ao governo, no que ficou conhecido como escândalo do mensalão. O conselho pediu a cassação da maioria dos envolvidos, mas o plenário da Câmara acabou absolvendo a maioria. Apenas três perderam os mandatos: José Dirceu (PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Correa (PP-PE).

Em abril, cinco deputados deixaram o Conselho de Ética depois da absolvição pelo plenário da Câmara do ex-presidente da Casa João Paulo Cunha (PT-SP), acusado de ter recebido R$ 50 mil do valerioduto. Em agosto de 2006 foi a vez de a CPI dos Sanguessugas enviar ao colegiado o nome de 69 deputados que estariam envolvidos com a máfia das ambulâncias. A maioria dos processos contra os parlamentares foi arquivada, mas dos 69 citados no relatório da CPI apenas cinco conseguiram se reeleger.