Título: EUA põem em xeque pacto palestino
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2007, Internacional, p. A12

Os EUA irão boicotar o futuro governo de coalizão palestino, formado na semana passada pelo grupo islâmico Hamas e o partido laico Fatah. A informação foi divulgada ontem por assessores do presidente palestino, Mahmud Abbas, do Fatah, segundo os quais o subsecretário de Estado dos EUA, David Welch, deixou clara a posição de seu país num telefonema.

O cônsul dos EUA em Jerusalém, Jacob Walles, também teria se encontrado com Abbas para reafirmar que a Casa Branca só irá dialogar com o novo governo se ele reconhecer o direito de Israel existir e se comprometer com o fim da violência e os acordos de paz firmados no passado com os israelenses - três condições formuladas pelo chamado Quarteto para o Oriente Médio (EUA, Rússia, ONU e União Européia) e rejeitadas pelo Hamas.

O Departamento de Estado americano disse que prefere esperar para se pronunciar oficialmente. Mas, se confirmada, a decisão dos EUA de isolar o novo governo - incluindo ministros aliados de Abbas - será um grande golpe contra o presidente palestino. Visto como moderado, Abbas apostava no governo de coalizão para convencer a comunidade internacional a suspender as sanções econômicas impostas à Autoridade Palestina no ano passado, quando o Hamas, considerado um grupo terrorista pelos EUA e a Europa, venceu as eleições legislativas e assumiu o controle do governo da região.

¿O grande perigo é que ocorra justamente o contrário do que os palestinos esperavam quando resolveram formar um governo de coalizão e Abbas, que até hoje tinha boas relações com Israel e o Ocidente, acabe isolado¿, disse ao Estado o historiador palestino Issam Nassar, professor da Universidade de Illinois, nos EUA. ¿Se não for reconhecido pela comunidade internacional, o novo governo não conseguirá resolver a crise econômica e social que tomou conta dos territórios palestinos e perderá a sua razão de ser.¿

O acordo entre o Fatah e o Hamas foi assinado em Meca, na Arábia Saudita, por Abbas e o líder do Hamas no exílio, Khaled Meshal, depois de muita negociação sobre a divisão dos ministérios (veja quadro com os pontos do acordo). Ontem, o primeiro-ministro palestino, Ismail Haniye, apresentou a renúncia de seu gabinete em uma reunião com Abbas, cumprindo uma formalidade necessária para a formação do novo governo.

Um gabinete de coalizão com o Hamas e o Fatah tem o duplo objetivo de acabar com a onda de violência entre as duas facções palestinas - que desde janeiro deixou 90 mortos - e levantar o boicote internacional, que levou o governo palestino à falência e deteriorou as condições de vida na região. Mas apesar do texto do acordo prever o ¿respeito¿ aos tratados de paz do passado, ele não fala em ¿compromisso¿ e ignora as outras duas exigências do Quarteto para dialogar com o governo palestino.

Abbas deve se encontrar no domingo, em Jerusalém, com a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, e o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, para tentar convencê-los de que, ainda assim, o novo gabinete palestino merece confiança. Os integrantes do Quarteto também se reunirão na quarta-feira para discutir sua posição em relação a ele.

QUESTÕES PENDENTES

Entre os desafios internos para a consolidação do novo governo, está a dificuldade do Hamas e do Fatah em negociarem algumas questões que ficaram pendentes no acordo. Não há consenso sobre um nome para liderar o disputado Ministério do Interior, que controla as forças de segurança palestinas.

O Hamas também exige que a chamada ¿força executiva¿, uma milícia de 5.600 homens leal ao grupo, seja oficializada, enquanto o Fatah quer seu desmantelamento.

PONTOS DO ACORDO

Premiê - Ismail Haniye manterá o cargo de primeiro-ministro

Divisão - Fatah terá sete ministérios e Hamas, nove

Ministérios - As pastas de Relações Exteriores e Finanças irão para políticos independentes

Interior - O Ministério do Interior, que controla as forças de segurança, ficará com um político neutro,que Abbas escolherá entre nomes indicados pelo Hamas