Título: Madri, 11 de março de 2004, às 7h37
Autor: Lapouge, Gilles
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2007, Internacional, p. A14
Madri despertava. Um dia tranqüilo de 2004, 11 de março, primavera. Eram 7h37. E, então, o horror. Um trem de subúrbio, que chegava à estação madrilenha de Atocha explodiu . Em seguida um segundo trem. No espaço de três minutos, quatro trens foram desmembrados. 191 passageiros mortos, 1.824 feridos. Madri transformou-se na capital do sangue.
O chefe do governo na época, Jose Maria Aznar, era um admirador de George W. Bush. Enviou soldados espanhóis para o Iraque na primavera de 2003. Além disso, na manhã do horror, explicou que as bombas haviam sido colocadas nos trens por bascos nacionalistas da ETA (grupo separatista basco). Afirmações sem fundamento, mas em 14 de março seriam realizadas eleições legislativas. Para Aznar, a acusação contra os bascos serviria para desviar a atenção. Mas não deu certo. Aznar perdeu as eleições para o socialista José Luiz Rodriguez Zapatero.
O plano terrorista germinou após o 11 de Setembro, que desencadeou a prisão de uma célula da Al-Qaeda na Espanha. Daí nasceu o desejo de vingança. E a segunda razão foi o envio dos soldados espanhóis para o Iraque. Por fim, em 18 de outubro de 2003, uma mensagem de Osama bin Laden, pela TV Al -Jazira, designava a Espanha como alvo.
Apesar dessas evidências, a ala dura do Partido Popular, no poder em 2004, continua acusando os bascos da ETA. Sustenta que o PP foi vítima de um complô e que os bascos seriam os culpados. Eles teriam sublocado os serviços de alguns matadores islâmicos. Não há nada que apóie essas afirmações. O atentado de 11 de março foi obra dos islâmicos.
Isso quer dizer que o governo socialista de Zapatero, sucessor de Aznar, é sólido e está longe da zona de perigo? Absolutamente. Ele se defronta com os mesmos problemas que destruíram seu antecessor: o terrorismo basco e o terrorismo islâmico.
Quanto ao terrorismo basco, as propostas de paz de Zapatero, com base nas quais edificou sua popularidade, tropeçam na teimosia bestial dos nacionalistas bascos, que romperam uma trégua arduamente conseguida. Cometeram um atentado sangrento em dezembro. Todas as esperanças desabaram. O governo espanhol, privado de qualquer arma política contra a ETA, enfraqueceu gravemente.
A mudança política provocada pelo atentado de 2004 teria pelo menos acalmado o furor islâmico? Zapatero não retirou rapidamente seus soldados da guerra do Iraque? Porém, as queixas da Al-Qaeda persistem. A Espanha continua engajada militarmente no Afeganistão e no Líbano. E, em julho de 2006, o número dois da Al-Qaeda exigiu a libertação de todos os territórios que foram antigamente muçulmanos. Citou Ceuta e Melilla, dois enclaves espanhóis herdados do antigo Marrocos espanhol.
Como se desenvolvem as redes terroristas na Espanha? Não é pela ação direta da Al-Qaeda, como ocorre na Inglaterra, mas por meio de grupos estreitamente ligados à Al-Qaeda. É na Catalunha que essas organizações terroristas são mais ativas.
As novas autoridades espanholas estão melhor preparadas para um ataque terrorista do que o governo de Aznar. Em 12 de dezembro, uma rede terrorista foi desmantelada em Ceuta, no Marrocos. Preparava um gigantesco atentado na Espanha. Depois de diminuir um pouco após a carnificina de 11 de março de 2004, a ameaça dos jihadistas na Espanha aumentou novamente e talvez esteja ainda mais feroz.