Título: Acordo prevê equação financeira complexa
Autor: Goy, Leonardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2007, Economia, p. B3

O acordo anunciado ontem entre Brasil e Bolívia para aumentar a remuneração dos bolivianos com a venda de gás ao Brasil - sem alterar o acordo já existente entre os dois países - envolve uma complexa equação econômica e financeira.

O gás natural importado pelo Brasil da Bolívia tem, em sua composição, diversos tipos de gases e componentes. O mais barato é o metano, que é suficiente para gerar calor para as usinas termelétricas ou para as indústrias, que queimam gás em suas caldeiras, ou ainda para abastecer os carros movidos a Gás Natural Liqüefeito (GNL).

Além do metano, o gás natural tem alguns componentes mais nobres e mais caros, que têm outras aplicações. É o caso do etano, usado na produção de plásticos, do Gás Liqüefeito de Petróleo (GLP) - que é conhecido como 'gás de cozinha' - e da 'gasolina natural', usada como matéria-prima na indústria petroquímica.

Normalmente, os países que exportam gás natural possuem fábricas capazes de separar esses componentes, para poder vendê-los à parte. Mas esse não é o caso da Bolívia.

Foi a partir desse quadro - de o Brasil comprar um gás mais 'rico' da Bolívia - que os dois países acharam uma brecha para, na prática, aumentar o valor pago aos bolivianos sem alterar oficialmente o preço do gás estabelecido em contrato.

Ficou acertado que a Petrobrás pagará à Bolívia um valor adicional pelos componentes mais nobres presentes no gás. Esses componentes fazem com que o combustível vendido ao Brasil tenha um 'poder energético' superior a 8.900 quilocalorias (Kcal) por metro cúbico de gás. A quilocaloria é uma unidade de medição do poder energético de uma substância.

CÁLCULOS PERIÓDICOS

Os dois países vão verificar periodicamente quanto há de cada componente nobre dentro do que exceder esse nível energético e calcularão quanto a Petrobrás deverá pagar adicionalmente, considerando o preço internacional de cada um desses componentes mais nobres.

Por isso, na prática, o custo adicional que a Petrobrás terá de pagar vai variar constantemente, em função de quanto da energia presente no gás exceder o nível de 8.900 Kcal por metro cúbico, em função ainda do 'mix' de componentes nobres presente nesta energia adicional e do preço desses itens no mercado internacional.