Título: 'Não somos imperialistas', diz Lula
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/02/2007, Economia, p. B5

Depois de um longo processo de negociação que exigiu 'muito diálogo, muita paciência e, sobretudo, muita inteligência', o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu, 'como um passo importante', a decisão de concordar com um aumento do preço do gás boliviano. Em solenidade no Palácio do Planalto, Lula formalizou o acordo e recebeu a garantia do presidente da Bolívia, Evo Morales, de que não haverá interrupção no fornecimento de gás ao Brasil. 'Não somos os imperialistas que alguns dizem que somos, não somos hegemonistas como alguns querem que sejamos', disse Lula ao defender o que chamou de 'parceria estratégica' com a Bolívia.

Ele disse que as reivindicações dos bolivianos eram justas, mas, indiretamente, expressou que a capacidade de o governo brasileiro atender a todas as demandas de Evo tem limite. 'O povo boliviano tem e sempre terá do Brasil solidariedade e apoio. Mas em um relacionamento tão intenso, nem sempre os pontos de vista coincidem e nem todas as prioridades e soluções são as mesmas', disse Lula. E acrescentou: 'Nem sempre poderei atender a todas as demandas.'

O presidente focou o discurso nas inúmeras iniciativas que pretende concretizar com Evo para permitir que o povo boliviano 'encontre seu próprio destino'. Evo reconheceu que foi importante 'ter paciência' para alcançar o que os dois 'países irmãos' se propuseram. Não se conteve ao reconhecer que 'ganhar (as eleições) é fácil, mas que governar é difícil'.

Para o boliviano, o acordo firmado ontem foi 'histórico'. Desde que assumiu, Evo transformou a nacionalização das refinarias de petróleo e a renegociação dos contratos com as companhias estrangeiras para conseguir um aumento no preço do gás na bandeira política de sustentação de seu governo.

Os dois, segundo Lula, não podem se esquecer de que eram 'companheiros do movimento sindical' e que ambos não podem permitir que essa primeira relação 'seja diminuída' porque hoje eles são presidentes. 'Estamos presidentes, mas o que somos mesmo é trabalhadores. Quando terminar o nosso mandato poderemos nos encontrar, em qualquer parte do mundo, e dizer que governamos pensando nos mais pobres, em fazer justiça social', disse.

Demonstrando que o Brasil pode ajudar muito mais a Bolívia, Lula avisou: 'Temos condições de ir muito além do gás.' E citou cada uma das medidas que pode adotar em favor dos vizinhos: eliminar totalmente as tarifas aos produtos bolivianos, abrindo caminho para o ingresso da Bolívia como membro pleno do bloco do Mercosul; eliminar todos os entraves para que o Brasil possa absorver as exportações bolivianas ameaças pelo corte das preferências comerciais hoje oferecidas pelos países desenvolvidos, visando, especialmente têxteis e vestuários; criar condições financeiras para exportação de tratores para a Bolívia e incrementar e diversificar o comércio bilateral.