Título: Lula resiste a trocar Haddad por Marta
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2007, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em conversas reservadas, que não dispensará o ministro da Educação, Fernando Haddad, como chegou a pleitear o PT para abrigar a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy. Mas a solução do impasse parece próxima: Lula afirmou a interlocutores que vai chamar Marta para comandar Cidades, ministério hoje controlado pelo PP. Para evitar a rebelião dos aliados, no entanto, sua intenção é transferir Márcio Fortes, atual titular do cargo, para Agricultura.

No cenário exposto pelo presidente para a reforma ministerial, o PT perderá as pastas de Agricultura e Previdência - já que esta deve ir para o PDT. Pode, ainda, deixar a articulação política, se Lula conseguir convencer Walfrido dos Mares Guia (Turismo), do PTB, a assumir a missão. Nos últimos dias, o presidente começou a planejar nova jogada: enviar Walfrido para Relações Institucionais no lugar de Tarso Genro, que será remanejado para Justiça.

Lula ficou contrariado com a pressão do PT para encaixar Marta na Educação. Disse que Haddad ganhou prestígio no ministério e tem feito um bom trabalho. Mesmo cercada de cautela, a reviravolta nos planos do Planalto já começa a provocar atritos na base aliada. ¿O presidente nos disse que Cidades era um ministério cobiçado, mas que não tinha motivo para tirá-lo do PP. Ninguém falou no nome de Marta¿, reagiu o presidente do PP, deputado Nélio Dias (RN).

A fúria do PP pode ser traduzida em números: apesar do corte de verbas, o orçamento de Cidades é muito maior do que o de Agricultura: R$ 1,5 bilhão contra R$ 816 milhões. E o de Educação, bem mais robusto: R$ 9,1 bilhões.

O efeito-dominó das intenções de Lula também causou protesto no PTB. Motivo: o partido, que conta com Walfrido na equipe e terá José Múcio (PE) como líder do governo na Câmara, quer indicar o deputado Nélson Marquezelli (SP) para Agricultura, hoje nas mãos do petista Luiz Carlos Guedes Pinto.

¿O PT não está pedindo espaço de ninguém, mas procurando estabelecer o seu espaço na composição do ministério. Política não é filantropia¿, afirmou Déda, que conversou com o presidente e saiu do Planalto defendendo Marta para Cidades.

O vaivém de Lula tem deixado atordoados até petistas, obrigando-os a mudar de estratégia a toda hora. Na quinta-feira, por exemplo, a cúpula do PT deu sinal verde à indicação de Marta para Educação - ministério preferido pelo grupo da ex-prefeita por dar mais ¿visibilidade¿ a ela para eventual disputa pela sucessão de Lula, em 2010. Mas dirigentes foram alertados por Marco Aurélio Garcia, assessor de Relações Internacionais da Presidência, de que a pasta não estaria disponível. Ontem, mudaram o discurso: alegaram que Cidades é um ministério ¿mais voltado para o desenvolvimento¿.

¿Marta é um nome polivalente. Tem várias qualidades e um perfil muito amplo¿, argumentou Garcia, que é vice-presidente do PT. Lula conversará com o ministro das Cidades na quarta-feira de cinzas.