Título: Grupo especial investigará ramal mineiro da máfia
Autor: Kattah, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2007, Nacional, p. A7

O Ministério Público de Minas Gerais criou um grupo especial para investigar a atuação no Estado da máfia dos sanguessugas, cujos envolvidos são acusados de participar de um esquema de venda de ambulâncias superfaturadas a prefeituras por meio de emendas parlamentares ao Orçamento da União. O procurador-geral de Justiça, Jarbas Soares Júnior, assinou portaria designando cinco integrantes do Ministério Público para atuar diretamente na investigação. Os trabalhos terão como base inicial o relatório final da CPI dos Sanguessugas, enviado esta semana pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao procurador-geral.

¿Será um aprofundamento das investigações já feitas. Essa comissão vai trabalhar na ramificação mineira da máfia¿, disse Soares Júnior. O procurador observou que, embora tenha atuado nacionalmente, a Planam - empresa sediada em Mato Grosso acusada de liderar o esquema das fraudes - tinha ¿seus braços¿ nos Estados. Em Minas já foram identificadas empresas que atuavam em conjunto com a Planam.

Conforme levantamento da Controladoria-Geral da União (CGU), feito a partir da prestação de contas apresentadas pelas prefeituras ao Ministério da Saúde, 61 municípios mineiros fecharam contratos com empresas supostamente envolvidas no esquema. O Estado está atrás apenas de Mato Grosso, com 97 prefeituras.

O procurador Evandro Senra Delgado, da Promotoria Especializada em Crimes de Agentes Políticos Municipais, foi nomeado coordenador da comissão, que terá ainda representantes das Promotorias de Defesa do Patrimônio Público e de Combate ao Crime Organizado. As investigações também serão feitas com o auxílio dos promotores do interior do Estado e articuladas com as apurações da Procuradoria da República em Brasília.

Cinco ex-parlamentares mineiros fazem parte da relação de investigados no escândalo das ambulâncias pela Polícia Federal: Isaías Silvestre (PSB), Cabo Júlio (PMDB), Cleuber Carneiro (PTB) e José Militão (PTB), que não foram reeleitos, além de Osmânio Pereira (PTB), que não disputou a eleição. Como não têm mandato, eles poderão ser investigados pelo Ministério Público e processados na Justiça comum. Também suspeito de envolvimento, João Magalhães (PMDB) conseguiu ser reeleito e, por conta do foro privilegiado, só pode ser alvo de processo no Supremo Tribunal Federal (STF).

De acordo com Soares Júnior, os rumos da investigação dependem primeiro de uma leitura minuciosa do relatório final da CPI, que contém 1.288 páginas. Uma reunião entre os integrantes da comissão e o procurador-geral está marcada para a próxima semana, após o feriado de carnaval.