Título: Argentina fez acerto parecido
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/02/2007, Economia, p. B1

O contrato de compra de gás natural assinado pela Argentina com a Bolívia prevê a construção de unidade separadora de frações nobres do combustível, nos moldes do que a Petrobrás também poderá construir agora.

Em outubro do ano passado, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, assinou um acordo com o colega boliviano, Evo Morales, para a compra de mais 20 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia a partir de 2009. Somado ao volume atual de 7,7 milhões de metros cúbicos comprados hoje diariamente, a Argentina passará a adquirir 27,7 milhões de metros cúbicos por dia.

A diferença entre a situação brasileira e argentina é que o governo Kirchner aceitou construir a unidade em território boliviano com participação parcial no negócio. A Energia Argentina Sociedade Anônima (Enarsa) será a responsável pelo investimento e terá de dividir com a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) as receitas da venda dos componentes extraídos do gás natural exportado. A unidade será da YPFB.

A discussão sobre a industrialização do gás boliviano no contrato com a Argentina tomou boa parte do tempo da negociação. O ex-ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Andrés Soliz Rada, foi quem exigiu, mesmo fora do governo, que a YPFB não abrisse mão de ter a unidade separadora em território boliviano. Os argentinos preferiam Rosário.

No caso da Petrobrás, que concedeu aumento de preço do gás ao aceitar pagar mais pelas frações nobres, o projeto poderá ser instalado em Corumbá (MS), ponto de entrada do gasoduto Bolívia-Brasil.

O projeto poderá ter a participação da Petroquisa, braço petroquímico da Petrobrás, e da Braskem, empresa controlada pelo Grupo Odebrecht. O pólo gasoquímico dará à Braskem o etano, matéria-prima para a produção de polietileno, a resina usado para a produção de plástico mais consumida no mundo.

A retomada dos investimentos na Bolívia é imprescindível para que todos os contratos assinados pelo governo Evo Morales seja cumprido.

A produção interna da Bolívia atualmente é insuficiente para atender a todos os contratos. Atende ao contrato do Brasil, de 30 milhões de metros cúbicos por dia, a demanda atual da Argentina, de 7,7 milhões m3, e o consumo interno, estimado em cerca de 4 milhões de m3 por dia.

Até 2009, a Bolívia precisará produzir mais de 65 milhões de m3. Não terá como atender se não receber novos investimentos em exploração e produção.