Título: Sociólogo elogia transferência direta de renda dos projetos
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2007, Nacional, p. A4

Os programas para jovens que vivem no limiar entre o crime e o estudo ou o trabalho têm papel importante de prevenção e, em alguns casos, de recuperação dos que cometem infrações leves, mas falham na hora de aferir a própria eficácia, diz o sociólogo Geraldo Tadeu Monteiro, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

'O número de jovens atendidos por esses programas é frio, cartorial. É preciso saber o que aconteceu na vida deles. Quantas crianças deixaram de entrar na criminalidade? O índice nutricional melhorou? Existe uma metodologia de pesquisa para aferir. Hoje, se gasta muito, mas não se sabe que resultados os programas estão produzindo', afirma. Monteiro diz que ajudou a implementar um sistema de aferição no governo Fernando Henrique, mas 'de maneira tímida'.

O pesquisador afirma que, na maioria das vezes, 'não são os jovens que procuram os programas, mas os programas que procuram os jovens', com o objetivo de evitar que eles se tornem ainda mais vulneráveis. Ele defende a transferência direta de renda como um dos pontos positivos dos programas, como forma de 'consolidar o núcleo familiar, porque o melhor espaço ainda é a família'. Monteiro aponta um indicador de mortalidade para mostrar a extrema vulnerabilidade dos jovens de 18 a 24 anos: '75% das mortes nessa idade são por causas externas, especialmente a violência.'

Sociólogo e cientista político do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj), Glaucio Ary Dillon Soares diz que o mais importante dos programas é o fato de crianças e jovens passarem algumas horas por dia na escola. 'Manter as crianças obrigatoriamente na escola é claramente mais cívico do que a subcultura das ruas, da vizinhança', afirma.

Segundo Soares, há pesquisas comprovando que a qualidade dos alunos é determinante para o aprendizado. 'A convivência com outros alunos inteligentes e curiosos é mais importante do que os professores. Existem drogas e crime nas escolas, mas bem menos que na vizinhança', avalia.

A antropóloga Alba Zaluar, autora de livros e pesquisas sobre violência, tráfico de drogas e o cotidiano das favelas cariocas, tem dúvidas sobre a eficácia apenas da manutenção dos jovens na escola, garantida pelos programas de transferência direta de renda. 'Muitos desses jovens estão ou estiveram na escola, mas acabaram marginalizados. A escola tem de estar preparada para essa situação. Estar na escola não significa estar integrado na escola', diz.

Para ela, o apoio e orientação aos pais, 'que muitas vezes não sabem como agir com os filhos', e o papel dos professores como mediadores de conflitos entre os jovens são fundamentais para evitar que se tornem infratores e criminosos.

Alba critica a política centrada principalmente na transferência de renda. 'Dar a bolsa é um vício do economicismo, de achar que a pobreza explica tudo.' Entre as medidas aprovadas durante a semana no Congresso, a antropóloga acredita que o aumento das penas para adultos que usarem menores como comparsas ou cúmplices pode inibir o aliciamento de crianças e adolescentes.

Embora diga que não tem como avaliar o impacto dos programas, o antropólogo Roberto Kant, da Universidade Federal Fluminense (UFF), faz uma reflexão: 'No Brasil existe uma desigualdade estrutural e jurídica, que diz que os cidadãos não são iguais e há até prisão especial para alguns. Os programas todos podem ser ótimos, mas se defrontam com essa desigualdade. O jovem sabe que, mesmo que estude e siga uma carreira, terá limites, talvez o limite do salário mínimo. Talvez por isso ele prefira experimentar o poder (quando se associa ao crime).'