Título: Mais de 64% dos empregos foram abertos fora da capital
Autor: Rehder, Marcelo e Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2007, Economia, p. B4

A expansão dos investimentos no interior se reflete nos números do emprego. Pesquisa feita pelo economista da Unicamp, Marcio Pochmann, revela que, de 1990 a 2005, o Estado de São Paulo gerou 4,5 milhões de empregos formais e informais. A maior parte destes empregos, 64,4%, foi criada no interior do Estado.

Alex Sandro Alves da Silva, 28 anos, faz parte dessa estatística. Ele foi um dos 140 trabalhadores da Ceratti que decidiu trocar a vida agitada da capital paulista por outro de ritmo mais lento em Vinhedo, uma das cidades da região de Campinas que mais cresce, impulsionadas pelos novos investimentos que aportaram nos últimos anos no interior.

A vida no bairro do Ipiranga, ao lado de Sacomã, em São Paulo, não era ruim, mas cruzar a cidade até a fábrica todos os dias nunca foi uma tarefa fácil. 'Nos últimos tempos, estava ainda pior', recorda Silva. A decisão de levar a família para o interior não foi tomada facilmente. 'A família, os amigos, o hábito de morar num lugar há muito tempo. Só vim porque não tinha outro emprego. Ia ficar desempregado', diz Silva.

Com dois filhos, pesou a responsabilidade de assegurar o bem-estar da família. Silva vive em Vinhedo há dois anos. Depois de um início difícil, se acostumou. Não pensa mais em deixar a pequena Vinhedo, cidade de muitos condomínios e, por isso, um pouco cara, admite.

Adilson da Costa Santos, 38 anos, companheiro de Silva na linha de produção de embutidos, também definiu o destino. Depois de 12 anos morando em São Paulo, Santos está satisfeito com a vida que leva no interior. Nascido em Serra Talhada, município a 400 quilômetros do Recife (PE), o migrante lembra, sem saudade, da vida em São Paulo.

Morava em Mauá, na Grande São Paulo. Para entrar às 6h30 da manhã, acordava às 4 horas. 'O problema nunca foi chegar ao trabalho. A essa hora, São Paulo ainda dorme. O problema sempre foi voltar para casa', lembra. Demorava cerca de 40 minutos para alcançar o cartão de ponto na Ceratti, mas não poucas vezes teve de encarar mais de 2 horas em ônibus para chegar à sua casa.

Além da melhoria da qualidade de vida, um ganho pouco mensurado, Santos realizou um sonho. Foi na Vinhedo de condomínios que conseguiu comprar um terreno e construir uma casa. Conseguiu também um carro nos dois anos de trabalho. 'Tudo o que tenho adquiri depois que mudei para cá. Estou satisfeito', afirma.

Santos e Silva não demoram mais de 10 minutos para alcançar a fábrica da Ceratti no distrito industrial de Vinhedo. Segundo Mario Ceratti Benedetti, proprietário da empresa, a maior parte dos funcionários optou por migrar para o interior, junto com a empresa. Todos foram demitidos e readmitidos em Vinhedo pela nova empresa, a Omamori Indústria de Alimentos, a responsável pela produção dos embutidos da marca Ceratti.