Título: Um 'país' chamado interior paulista
Autor: Rehder, Marcelo e Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2007, Economia, p. B4

Com uma força econômica superior à de países como o Chile, o interior paulista tem atraído cada vez mais empresas da capital e de outros Estados que buscam custos menores, espaço para crescer e um sistema logístico que favoreça o escoamento da produção, sem os congestionamentos crônicos da cidade de São Paulo. Fortalecido com essa migração de empresas, o interior viu sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) paulista crescer 3,7 pontos porcentuais no curto período de quatro anos. Hoje, a região já responde por praticamente metade da soma de todas as riquezas produzidas no Estado.

O interior paulista (descontando os 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo) é um 'país' com um PIB de US$ 135,9 bilhões no ano passado, segundo projeção feita pela consultoria MB Associados. O valor é 12% maior que o PIB chileno, de US$ 121 bilhões em 2006.

No território brasileiro, o interior paulista não tem rivais em poder econômico, com exceção da Região Metropolitana de São Paulo. Sua participação no PIB do País é de 15,3%, praticamente metade da contribuição do Estado, de 30,9%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes a 2004.

'Se somarmos o PIB das Regiões Norte e Centro-Oeste do País, mesmo assim não dá o do interior de São Paulo', compara Miguel Matteo, chefe do Departamento de Estudos Econômicos da Fundação Sistema de Análises de Dados (Seade), órgão do governo do Estado.

Esses fatores tornam a região um pólo de investimentos que tem atraído muitas empresas , principalmente para o espaço produtivo formado por municípios das regiões de Campinas, São José dos Campos, Sorocaba e Santos, que se concentram num raio de 150 quilômetros, com foco na região metropolitana.

'O aumento das exportações do Estado, nos últimos anos, beneficiou essencialmente a região metropolitana e seu entorno, onde se concentram cerca de 90% do valor adicionado pela indústria paulista', observa o economista Sergio Vale, da MB Associados.

NA FAVELA

A Omamori Indústria de Alimentos, empresa que produz embutidos da marca Ceratti, decidiu deixar a cidade de São Paulo em outubro de 2004. Segundo Mario Benedetti, proprietário da indústria, foi a única maneira de tirar a empresa da estagnação.

A fábrica da Ceratti ficava dentro da maior ocupação urbana do País, a favela de Heliópolis, na região do Sacomã, em São Paulo. 'Há 30 anos não havia nada por ali. A ocupação avançou, surgiram os barracos, as casas de alvenaria. Quando vimos, estávamos no meio da favela, sem a menor condição de operação', conta Benedetti.

A transferência da fábrica para Vinhedo, município da Região Metropolitana de Campinas, foi um salto. Além de ter elevado a capacidade de produção para 1 mil toneladas por mês, a unidade ganhou um SIF Exportação - que a habilita a exportar para mercados exigentes. 'Era algo impensável em São Paulo.' As perspectivas de exportação para a França e a China são concretas e podem ser acertadas em breve.

A 40 quilômetros de Vinhedo, entrando mais para o interior, a panificadora industrial Wickbold se apressa para terminar a montagem da nova fábrica, em Hortolândia, cidade também da Região Metropolitana de Campinas. Até abril, duas novas linhas de produção de pães começarão a funcionar. O plano, até 2010, é alcançar até seis linhas de produção de pães.

O interior paulista foi a alternativa da Wickbold para a falta de capacidade das duas fábricas na região metropolitana de São Paulo, uma em Diadema e outra na Vila Santa Catarina. A empresa tem uma terceira unidade em Jacarepaguá, no Rio. Em nenhuma destas havia espaço para crescimento.

'A empresa precisava crescer a produção numa região próxima de São Paulo, a no máximo 150 quilômetros da capital. Hortolândia foi um achado', diz Eric Wickbold, gestor de novos projetos da empresa. A construção da fábrica vai consumir R$ 50 milhões.

Ao lado da Wickbold, a Dell Computer, líder do mercado de servidores no Brasil, com 44,4%, escolheu o mesmo distrito industrial de Hortolândia para por em marcha um plano de expansão da produção de computadores no País. O interior de São Paulo vai dar à empresa duas condições para reforçar a capacidade de disputar uma fatia do mercado nacional: ficará mais perto dos principais fornecedores de partes e peças e estará ao lado do maior mercado de computadores, o Sudeste do País.

A Dell vai manter a unidade de produção e o centro de desenvolvimento de software em Eldorado do Sul (RS), mas terá nova condição para competir no mercado interno. Segundo Laury Johnson, diretor de Distribuição e Operações da Dell, a unidade de Hortolândia, que começa a produzir neste semestre, deve dar à empresa custos mais baixos por máquina. Os 10 principais fornecedores, que respondem por 80% das compras, estão no interior de São Paulo.

BALANÇO

US$ 135,9 bilhões foi o Produto Interno Bruto (PIB) do interior de São Paulo no ano passado, conforme levantamento da MB Associados

12% é quanto o PIB do interior paulista superou o do Chile no ano passado

15,3% foi a participação do interior paulista no PIB Brasileiro no ano de 2004

4 anos foi o tempo que o interior de São Paulo precisou para elevar em 3,7 pontos porcentuais a sua participação no PIB paulista

30,9% foi a participação do Estado de São Paulo no PIB Brasileiro em 2004, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)