Título: Teles têm modelo híbrido de televisão
Autor: Cruz, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2007, Economia, p. B8
Há dois anos, parecia que a chamada IPTV, televisão sobre protocolo de internet, era a saída para as operadoras de telecomunicações completarem sua oferta de telefonia, vídeo e internet. A tecnologia permite ligar uma conexão de banda larga direto a um conversor, para assistir ao conteúdo na televisão. Por causa de impedimentos regulatórios, no entanto, precisaram buscar outras alternativas, como parcerias com empresas de satélite e a compra de companhias de TV a cabo.
A regulamentação não deixa as operadoras oferecerem canais de televisão por IPTV, usando sua rede telefônica, de fios de cobre, somente vídeos avulsos, sem programação. Isso fez com que as companhias optassem por um modelo híbrido. A Telefônica fechou um acordo de TV via satélite com a DTHi e a Brasil Telecom e a Telemar com a Sky+DirecTV. A Telefônica espera a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) se manifestar sobre a compra da TVA e a Telemar sobre a compra da WayTV, de Minas Gerais. Enquanto isso, todas tocam seus pilotos de IPTV.
'Em seis meses, tecnicamente, poderemos ter caixas híbridas, com satélite e IPTV, por exemplo', afirmou Pedro Ripper, presidente da Cisco do Brasil, fabricante de equipamentos. Neste caso, os canais de televisão poderiam vir por satélite e o vídeo sob demanda, que o espectador escolhe a hora em que quer assistir, por IPTV.
Nos Estados Unidos, a AT&T lançou um serviço chamado Home Zone, que mistura televisão por satélite e vídeo por banda larga direto na televisão. O conversor tem um disco rígido de 250 gigabytes e dois controles remotos com teclado alfanumérico.
MÉDIO PRAZO
Semana passada, na entrevista em que anunciaram a parceria com a Sky+DirecTV, os presidentes da Telemar, Luiz Eduardo Falco, e da Brasil Telecom, Ricardo Knoepfelmacher, disseram que o IPTV não é para já. 'A IPTV vai demorar alguns anos para se tornar realidade', disse Ricardo K., como é conhecido o presidente da Brasil Telecom. 'O sistema precisa de 6 megabits por segundo de alta qualidade e sempre. Aqui as velocidades são muito reduzidas.' Ainda são comuns conexões de 500 quilobits (meio megabit) por segundo na banda larga brasileira. A Brasil Telecom tem um piloto com 300 pessoas em Brasília.
Dependendo do sistema de compressão, a IPTV precisa de uma conexão de 1,5 a 3 megabits por segundo (Mbps) para vídeos com definição padrão (como a da televisão convencional) e de 6 a 10 Mbps para vídeos em alta definição (com qualidade de imagem melhor que a do DVD). 'O Brasil não tem necessidade tão grande para lançar o serviço em massa agora', destacou Falco, da Telemar. 'A gente pode esperar a tecnologia amadurecer um pouquinho. Ela pode ser de nicho ou complementar.' A Telemar também tem um teste de IPTV.
O IPTV é uma tecnologia nova, que ainda não se provou em larga escala. As operadoras precisariam fazer grandes investimentos em rede para garantir o seu funcionamento. A maior barreira, no entanto, é regulatória. Como elas só poderiam oferecer vídeo sob demanda, o modelo de negócios não se sustenta. O consumidor dificilmente assinaria um serviço de programas à la carte das teles e outro com grade de canais de uma segunda empresa. Uma caixa híbrida, como a da AT&T, ajudaria a resolver o nó regulatório, que inclui, além de impedimentos por escrito, a demora da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em aprovar ou rejeitar a compra de empresas de TV paga por teles.
TRIPLE PLAY
A busca das operadoras pelo triple play (oferta de pacotes que unem telefonia, banda larga e televisão) tem sido até agora uma estratégia de defesa. A Net tem a Embratel como sócia e oferece os seus combos, com descontos para quem compra os serviços juntos. Apesar de os números ainda serem pequenos (no fim do terceiro trimestre de 2006, eram 115,4 mil assinantes de telefonia), a Net ataca os clientes mais valiosos das operadoras, que gastam mais com telecomunicações.
Do lado do consumidor, a expectativa é de aumento de competição e preços menores, nos três serviços. O mercado de TV paga se prepara para a expansão. Existem somente 4,6 milhões de assinantes de televisão no Brasil, menos do que os 5 milhões de clientes de banda larga, segundo o site Teleco. Isso apesar de 91,4% das residências no País ter televisão e somente 18,6%, computador.