Título: Reflexões sobre um evento mundial de CAD-3D
Autor: Siqueira, Ethevaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2007, Economia, p. B8

O lado mais gratificante do trabalho jornalístico, para mim, é poder acompanhar a fronteira do conhecimento e da tecnologia, no Brasil e no mundo. Nesse sentido, há eventos que superam nossa expectativa, seja pela diversidade de conteúdos e de aspectos humanos inusitados, seja pelas personalidades com as quais nos relacionamos.

Acabo de participar de um desses eventos de impacto, o SolidWorks World 2007, realizado em New Orleans, e que deu a 3.500 pessoas de mais de 100 países o panorama mundial dos softwares para projetos tridimensionais apoiados em computador (CAD-3D). Mais do que isso: trouxe para o palco figuras como Steve Wozniak, o co-fundador da Apple e inventor do computador pessoal, um dos ministros responsáveis pelo projeto educacional de Ruanda, o coronel encarregado da reconstrução de New Orleans e Mr. Spock (o ator Leonard Nimoy), figura popularizada pela série de TV Jornada nas Estrelas.

Spock bateu um grande papo com a platéia e, depois, deu entrevista coletiva. Contou que até seus amigos mais próximos lá pelos anos 1980 achavam que ele era um extraterrestre. ¿Cheguei a escrever um livro, com o título: Não sou Spock. Mas não adiantou nada.¿

A FACE HUMANA

Para John McEleney, executivo-chefe da SolidWorks, empresa da região de Boston e com presença no Brasil, uma das razões do sucesso de eventos como o de New Orleans é seu conteúdo humano. ¿Vir para cá nos possibilita, entre outras coisas, conhecer de perto o drama de New Orleans, encontrar figuras extraordinárias como Wozniak, ouvir experiências incríveis e oferecer soluções que, acima de tudo, tornam muito mais simples, agradável e humano o trabalho criador dos projetistas.¿

Na tela dos PCs, esses softwares avançados funcionam como mágica, dando forma a montagens complexas, criando desenhos de peças mecânicas ou a tubulação completa de uma refinaria de petróleo, com animação, rotação tridimensional, deslocamentos em todas as direções, zoom, ampliação, cortes, mensuração virtual e testes de funcionalidade.

Há mais de 30 anos, surgiam os primeiros projetos apoiados em computador (Computer-Aided Design ou CAD). No passado, tudo era feito em duas dimensões (2D). A partir dos anos 1990, surgiram os softwares com simulação tridimensional (3D).

Com a evolução da computação, os softwares de CAD-3D se transformaram em ferramentas tão surpreendentes que chegam a arrancar aplausos das platéias mais especializadas diante das demonstrações de novos recursos, como ocorreu nas sessões do evento de New Orleans.

Há cerca de 50 anos, trabalhei em projetos de peças mecânicas no Senai. Que diferença entre as facilidades de hoje e o trabalho de paciência que consumia horas, para elaborar os desenhos técnicos manuais - apenas com lápis, régua e compasso - no final dos anos 1950, para peças que seriam produzidas por meus alunos, futuros fresadores, torneiros e ajustadores mecânicos. Lula era um dos estudantes daqueles tempos, do Senai em São Paulo. Mas não foi meu aluno.

GRANDES INOVAÇÕES

A primeira coisa que o SolidWorks 2007 me proporcionou numa das sessões do grande auditório foi a discussão do conceito de bom produto ou inovação.

Responda, leitor: em sua opinião, o que é um grande produto? A melhor resposta que ouvi foi a seguinte: um grande produto é aquele que nos permite resolver grandes problemas ou necessidades. Como a lâmpada elétrica incandescente, de Edison. O telefone, de Graham Bell. A penicilina, de Fleming. O avião, de Santos Dumont.

Mas a tecnologia e a indústria estão produzindo milhares de produtos - alguns realmente extraordinários, com a utilização das novas ferramentas de projetos 3D. Uma dessas inovações de maior sucesso no evento SolidWorks 2007 foi a serra circular SawStop, que não corta o dedo de nenhum operador.

A SawStop é uma serra que detecta a presença e a proximidade de nosso dedo ou outro material orgânico e pára imediatamente. Acesse o link e veja como funciona. Lembrei outra vez de Lula, que perdeu o dedo mínimo esquerdo, acho que numa prensa da Villares, em São Bernardo do Campo.

Outro exemplo de inovação criativa é a da máquina de fazer sorvetes Moo Bella, projetada para quem gosta de tomar sorvete feito na hora, normal ou light, com ingredientes frescos, sem conservantes, em lugar dos sorvetes industrializados, que têm, em geral, meses de idade.

HÉLIO COSTA

Em seu artigo de domingo passado, o ministro das Comunicações não responde a nenhuma das questões centrais de minha coluna do último dia 4. Dou o debate por encerrado, e reitero os seguintes pontos : 1) a vergonhosa barganha política na escolha dos ministros, por Lula e seus antecessores; 2) a incompetência de muitos ministros, não importa sua origem profissional; 3) os problemas de qualidade da tecnologia Iboc de rádio digital; 4) a atitude questionável do ministro ao se pronunciar a favor de um dos padrões do sistema de TV digital; 5) a questão do Banco Postal (em que Hélio Costa recuou, dias depois); 6) a perda definitiva dos R$ 5 bilhões do Fust não utilizados desde o ano 2000.