Título: Aliados querem Marta no Trabalho
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2007, Nacional, p. A6

Diante da pressão do PT para que a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy assuma o comando do Ministério das Cidades, desalojando o PP do ministro Márcio Fortes, líderes governistas reagiram ao aumento da cota de poder dos petistas e sugeriram outra solução ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: que entregue à petista o Ministério do Trabalho e Emprego, para que não haja desequilíbrio de forças na base aliada. Afinal, o Trabalho também vem sendo comandado atualmente por um petista, o ex-presidente da CUT Luiz Marinho.

¿A Marta não vai para lá se for na base da miséria¿, diz um interlocutor do presidente Lula. Segundo ele, o Trabalho tem ¿enorme potencial¿, desde que o orçamento não seja minguado. ¿Com garantia de recursos para programas de qualificação profissional, geração de renda, saúde e bem-estar do trabalhador, este ministério pode se tornar uma máquina fortíssima e Marta pode sair de lá como uma Evita Perón¿, completa o interlocutor.

O conselho político do PT aguarda um chamado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tratar de reforma ministerial, o que poderá ocorrer ainda nos próximos dias, segundo esperam dirigentes da legenda. Hoje e amanhã, a Executiva Nacional petista se reúne em Brasília para aprovar um documento contendo as sugestões do partido para a reforma ministerial.

No final da semana passada, o presidente nacional da legenda, deputado Ricardo Berzoini (SP), reiterou que o nome da ex-prefeita deverá permanecer na lista de indicações. Mas, em meio a rumores contraditórios sobre qual pasta ela poderia ocupar, ele insistiu em que esta é uma definição que cabe exclusivamente ao presidente Lula. Na ocasião, Berzoini também negou que o PT esteja pressionando o presidente e disse apostar no debate político para solucionar a questão. ¿Pressão não resolve nada. O que resolve é o debate¿, afirmou.

¿Por enquanto está tudo na cabeça do presidente e a decisão não foi tomada. Ninguém está garantido nem descartado do ministério¿, resume o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP).

Depois de alardear que Lula garantira ao partido a permanência de Fortes em Cidades, a cúpula do PP recusa-se, agora, a bater boca com petistas que contestam a informação e dizem que o endereço do ministro na Esplanada não está definido. Segundo um importante dirigente do PP, a permanência de Fortes no cargo é considerada ¿um assunto encerrado¿ e o partido não cogita sequer analisar uma eventual proposta de troca de Cidades pela pasta da Agricultura. ¿Se tirarem nosso ministério, não precisam dar mais nada ao PP, porque não aceitaremos compensação para contemplar o PT¿, emenda o dirigente, ao prever a abertura de uma crise política na base caso Fortes seja despejado.

Além do PT e do PP, a cúpula do PMDB na Câmara também espera ser convocada ao Planalto para tratar da reforma. Na semana passada, a direção do PSB saiu do gabinete presidencial dizendo que Lula queria adiar as mudanças no ministério para a segunda quinzena de março. A cúpula peemedebista, no entanto, afirma que, na conversa com o PMDB, Lula se declarou disposto a encerrar a reforma até 2 de março.

¿Essa conversa está valendo. Se quiser adiar, espero que o presidente nos chame para avisar¿, diz o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Segundo ele, o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), falou por telefone com o ministro Tarso Genro, das Relações Institucionais, depois da manifestação do PSB, e foi informado de que a conversa com os peemedebistas está de pé no que se refere ao prazo para a conclusão das alterações na equipe.

Na avaliação do líder, adiar a reforma por conta da Convenção Nacional do PMDB, que elegerá nova direção no dia 11 de março, não faz sentido. Embora Temer vá disputar a reeleição com o ex-deputado Nelson Jobim, Alves afirma que, no que diz respeito à Câmara, a convenção não vai alterar nada. ¿A bancada sabe muito bem o que quer e está muito definida¿, diz o líder a respeito do apoio ao governo. Segundo ele, há muito tempo um presidente da República não desfruta de ¿clima tão favorável¿ junto aos deputados peemedebistas. ¿É só jogar limpo, com sinceridade, que o governo não terá problema nenhum com a bancada.¿