Título: Israel negocia com EUA ataque ao Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2007, Internacional, p. A10

Israel está negociando com os EUA para utilizar o espaço aéreo do Iraque caso decida bombardear instalações nucleares iranianas, de acordo com o jornal britânico Daily Telegraph, que citou fontes militares israelenses. 'Estamos nos preparando para todas as eventualidades e resolvendo questões cruciais como essa do acesso ao espaço aéreo', disse ao jornal uma autoridade israelense, sob condição de anonimato. 'Se não planejássemos tudo agora, poderíamos ter uma situação na qual aviões israelenses e americanos começariam a atacar uns aos outros.'

O vice-ministro da Defesa israelense, Ephraim Sneh, negou as informações sobre um eventual ataque ao Irã dizendo que elas 'não têm nenhum embasamento'. 'Aqueles que não querem adotar medidas políticas, diplomáticas e econômicas contra Teerã estão tentando mudar o foco das atenções com essas histórias sobre uma suposta missão israelense', afirmou Sneh. 'A comunidade internacional deveria se concentrar agora em impor sanções econômicas contra o governo iraniano po r ele ter desafiado uma resolução do Conselho de Segurança (CS) da ONU.'

O Irã alega que seu programa nuclear tem fins pacíficos, mas Israel, os EUA e boa parte da comunidade internacional suspeitam que o país queira produzir armas atômicas. Um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), divulgado na quinta-feira, diz que Teerã acelerou seu projeto para produzir urânio enriquecido (matéria-prima para energia nuclear e também para fabricação de bombas atômicas), em vez de paralisá-lo, como o CS exigia, o que abriu espaç o para que sejam adotadas sanções mais duras contra o país.

Representantes dos membros permanentes do CS (EUA, França, Rússia, China e Grã-B retanha) devem se reunir amanhã, em Londres, para discutir qual será seu o próximo passo . Em dezembro, durante negociações no CS, a Chin a e a Rússia (país que mantém um polêmico programa de cooperação nuclear com os iranianos), barraram a adoção de medidas muito drásticas contra Teerã. Na época, foram aprovadas apenas sanções limitadas, como a proibição da venda para esse país de material e tecnologia que poderiam ser utilizados na fabricação de mísseis e armas atômicas.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de uma ação militar no Irã, na sexta-feira, o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, afirmou que 'todas as opções serão consideradas'. Em resposta, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Manouchehr Mottaki, disse ontem que os EUA não teriam condições de atacar seu país. 'Eles não conseguiriam impor outro conflito para seus contribuintes', afirmou Mottaki, acrescentando que, apesar disso, o Irã estaria preparado 'para todas as possibilidades'.

Nos últimos meses, os EUA e o Irã vivem uma escalada de tensões. Além da disputa sobre a questão nuclear, a Casa Branca acusa o Irã de financiar milícias xiitas no Iraque e, em janeiro, decidiu reforçar seu aparato militar no Golfo Pérsico por causa do que chamou de 'atitude negativa de Teerã'.