Título: Prodi fica e vai enfrentar voto de confiança
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2007, Internacional, p. A13

Após quatro dias de instabilidade política causada pelo pedido de renúncia do primeiro-ministro Romano Prodi, o presidente italiano Giorgio Napolitano decidiu ontem pedir a Prodi que permaneça no cargo e submeta seu gabinete a um voto de confiança no Parlamento.

O premiê italiano havia renunciado depois de ter perdido uma importante votação no Senado na última quarta-feira, inclusive com votos de sua base aliada de centro-esquerda, composta de nove partidos.

Napolitano passou os últimos dias reunido com líderes partidários, parlamentares e até três ex-presidentes, Francesco Cossiga, Oscar Luigi Scalfaro e Carlo Azeglio Ciampi. O resultado das consultas acabou favorável aos esquerdistas. Agora, Prodi deve ser submetido a um voto de confiança nas duas casas do Parlamento. Isso não deve ser difícil na Câmara dos Deputados, onde conta com 67 cadeiras a mais que a oposição. Mas, no Senado, sua coalizão tem a maioria de apenas um assento.

'Agradeço o apoio do presidente Napolitano e pretendo lutar pelo voto de confiança o mais rápido possível', disse o primeiro-ministro após se reunir com Napolitano palácio presidencial, em Roma.

Apesar de possível, a derrota de Prodi parece improvável. Nem seus adversários conservadores estão interessados em afundar a Itália em outra crise política após a apertada vitória de Prodi na eleições parlamentares de abril do ano passado.

O atual impasse acirrou os ânimos entre os aliados do primeiro-ministro. Um dos senadores comunistas que votou contra Prodi chegou a ser agredido fisicamente por outro líder de esquerda, que o acusou de querer entregar o poder novamente a Silvio Berlusconi.

Ao pedir a demissão, Prodi insistiu que só permaneceria líder se todos os nove partidos de centro-esquerda que formam sua coalizão assinassem um termo que desse a ele o direito explícito de ter a última palavra. Todos assinaram. Ele também espera ter o apoio de alguns senadores da oposição.

A votação do Parlamento deve ocorrer ainda esta semana. Se vencer, Prodi segue até o fim de seu mandato de cinco anos, mas pode ficar exposto a futuras crises, principalmente em assuntos envolvendo política externa e orçamento. A votação que originou o problema atual, na última semana, era justamente sobre tais temas. A renúncia de Prodi veio após uma derrota por dois votos no Senado. Entre as discussões, estava sua decisão de manter soldados italianos no Afeganistão.

Já no caso de uma derrota, seria o fim da carreira política do premiê. E caberia a Napolitano definir se pediria a algum outro parlamentar - da base aliada a Prodi ou da oposição - a formação de um novo governo ou se convocaria novas eleições.

Napolitano já havia se mostrado relutante quanto à segunda opção antes que se faça uma reforma no sistema eleitoral.