Título: Zona Franca aposta na TV digital para manter crescimento acelerado
Autor: Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2007, Economia, p. B4

A Zona Franca de Manaus (ZFM), que comemora 40 anos na quarta-feira, vive uma nova onda de expansão no Pólo Industrial de Manaus (PIM), onde as 450 empresas beneficiadas com renúncia fiscal estão puxando um ritmo acelerado de crescimento.

Além da ampliação da produção de motos e o já tradicional pólo eletroeletrônico (que respondeu por 34,4% das receitas do pólo no ano passado), novos negócios prometem dar novo impulso à região.

O primeiro e mais promissor é a TV digital, que deve ganhar força a partir de 2008, quando o sistema começar a tomar lugar da TV analógica. No anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo federal elegeu Manaus como o pólo produtor dos produtos de consumo da TV digital. Entre os produtos estão o próprio aparelho de TV digital, como o conversor de sinal analógico para digital, o chamado set top box.

A Zona Franca disputava com outras regiões do País o direito de produzir o item. Outras regiões, como Santa Rita do Sapucaí (MG), negociava a concessão de incentivos semelhantes aos da ZFM para a produção desses produtos em qualquer região do País. Manaus venceu a briga e agora começa a estimar o efeito econômico positivo que isso vai produzir.

O segundo meganegócio avaliado pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), agência do governo federal responsável pela gestão do desenvolvimento da região, está num plano já pronto de industrialização do gás natural produzido pela Petrobrás no campo de Urucu, no meio da floresta amazônica.

Segundo José Alberto da Costa Machado, coordenador-geral de Estudos Econômicos e Empresariais da Suframa, o investimento previsto no pólo gasoquímico alcança US$ 1,1 bilhão e, quando pronto, poderá gerar receita anual de US$ 1,6 bilhão com os insumos usados na indústria petroquímica ou de fertilizantes. A previsão é que o gás natural deverá chegar a Manaus em 2008.

A Suframa ainda não mensurou os investimentos totais, mas avalia que os ingressos sejam tão ou mais fortes que aqueles que entraram na economia da região desde o início da década. ¿O total de investimentos aplicados no pólo nos últimos cinco anos soma US$ 8 bilhões. A expansão dos negócios já consolidados e o surgimento de novos vai atrair mais capital¿, diz Machado.

RECEITA

O volume de investimentos nos últimos anos e a transformação da Zona Franca numa região não apenas importadora, mas produtora dos próprios insumos, resultou em crescimentos constantes de faturamento na região. ¿A idéia de que o Pólo Industrial é uma região maquiadora é antiga e equivocada. Mais da metade dos insumos industriais usados na região são comprados no Brasil¿, afirma o coordenador de estudos da Suframa.

Segundo ele, dos 52% dos insumos industriais consumidos por Manaus, 38% são produtos adquiridos no próprio pólo. ¿Há uma cadeia industrial sendo montada na área¿, sustenta Machado. O resultado, explica, refletiu-se no balanço geral do faturamento.

A receita do conjunto da indústria do Pólo Industrial cresce anualmente acima de dois dígitos, o que fez o faturamento dobrar em três anos, passando de US$ 10,5 bilhões para US$ 22,8 bilhões no ano passado. A previsão da Suframa é que a indústria local eleve em 15% o faturamento neste ano, com perspectiva de crescimentos ainda mais fortes a partir de 2008, devido aos novos setores.

PROJETOS APROVADOS

Em projetos enquadrados no Processo Produtivo Básico (PPB) e beneficiados com isenções tributárias de Imposto de Importação (II) e Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a Suframa aprovou no ano passado 277 projetos. São projetos que prevêem a construção de novas fábricas ou a ampliação de indústrias já instaladas. O investimento previsto para esse conjunto de empreendimentos é de US$ 2,251 bilhões. Pelas regras do PPB, a empresa enquadrada no processo e beneficiada com as isenções tem três anos para viabilizar a implantação de indústrias, antes de expirar o aval da Suframa.

Nem todas saem do papel. Desde 2000, a Suframa aprovou mais de 1,6 mil projetos, que previam investimentos de mais de US$ 19 bilhões. Apenas US$ 8 bilhões se viabilizaram. Mesmo assim, o Pólo Industrial de Manaus se transformou num resultado promissor de uma política dirigida de governo. Principalmente como esforço para proteger a floresta amazônica. O Estado do Amazonas mantém 98% da cobertura vegetal intocada. ¿Sem o pólo, isso não seria possível¿, diz Machado.