Título: MST faz nova invasão e quer negociar
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2007, Nacional, p. A5

Cerca de 100 integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) e de sindicatos rurais ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) invadiram ontem a fazenda Cachoeirinha, em Itapura, na Alta Paulista, a 670 km de São Paulo. Foi a 13ª fazenda invadida no oeste do Estado num espaço de 24 horas, na primeira ação conjunta do movimento com sindicatos cutistas. No domingo, a CUT e o MST mobilizaram cerca de 2 mil militantes para invadir 12 fazendas no Pontal do Paranapanema e Alta Paulista.

A operação começou de manhã, quando os invasores chegaram num comboio de carros, ônibus e caminhões. Logo romperam a cerca e iniciaram a montagem de barracos. Segundo José Carlos Bossolan, do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Sintraf), a área de 1 mil hectares foi considerada improdutiva pelo Incra e desapropriada em 2005. O proprietário, Renato Junqueira Stamato, entrou com agravo na justiça.

O líder do MST, José Rainha Júnior, que planejou toda a operação, quer passar agora à fase de negociação. ¿Agora, paramos de ocupar e vamos pedir audiências com o governo.¿ Ele disse que a maioria das áreas invadidas foi vistoriada e avaliada pelo Incra para acordo com os proprietários. Os fazendeiros, segundo ele, estão dispostos a vender a terra - informação que é negada pelo presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia. ¿Se algum fazendeiro concorda em vender, é por causa da pressão que eles (sem-terra) fazem com as invasões', diz ele. Outras áreas, segundo Rainha, ou foram consideradas devolutas em processos judiciais, ou declaradas improdutivas. ¿O que falta é o Itesp (Instituto de Terras do Estado de São Paulo) usar o dinheiro repassado pelo governo federal e agilizar a posse.¿

A próxima etapa do grupo é pedir audiência com o secretário da Justiça de São Paulo, Luiz Antonio Marrey. Ele justificou as invasões: ¿Se o Itesp não agiliza, o movimento social é obrigado a pressionar.' Ontem, policiais militares estiveram em algumas das fazendas invadidas na tentativa de identificar os ocupantes. Na Santa Tereza, em Presidente Venceslau, os sem-terra estavam concluindo a montagem de barracos.

Rainha disse esperar que atitude do governo em relação à questão fundiária seja política e não policial. ¿Da nossa parte, não haverá conflito ou violência. Se houver reintegração, vamos cumprir a ordem judicial.¿ Em Dracena, onde foi invadida anteontem a fazenda São Diogo, o proprietário, Diogo Perez Geronymo, entra amanhã com o pedido de reintegração de posse. Ele disse que foi ameaçado com facões quando se dirigiu ao local. ¿Deu a impressão de que eles eram os donos e eu estava invadindo¿, comentou. Segundo Rainha, a São Diogo é uma das fazendas que o Incra considerou improdutiva, mas Geronymo contestou. ¿Sempre foi produtiva.'

INVASÃO NO SUL

No Rio Grande do Sul, a Brigada Militar reforçou a vigilância contra ações do MST na Fazenda Coqueiros, em Coqueiros do Sul, noroeste do Estado. Desde a semana passada grupos de sem-terra estão chegando de outras regiões para engrossar os dois acampamentos montados junto à propriedade. O MST tem 250 famílias instaladas em torno da fazenda e estaria querendo elevar esse número para 400 famílias. Para controlar eventual ofensiva dos sem-terra, a Brigada deslocou 25 soldados que patrulham a região a cavalo e mantém um grupo do Batalhão de Operações Especiais na sede da fazenda.

AS 13 OCUPAÇÕES

Euclides da Cunha Paulista:

Fazenda Iaras 1

Fazenda Iaras 2

Fazenda Nova Esperança

Mirante do Paranapanema:

Fazenda Platzeck

Piquerobi:

Fazenda Santo Antonio

Presidente Bernardes:

Fazenda Guarani

Presidente Epitácio:

Fazenda Água Limpa

Presidente Venceslau:

Fazenda Santa Tereza

Fazenda Pederneiras

Teodoro Sampaio:

Fazenda Beira Rio

Dracena:

Fazenda São Diogo

Flora Rica:

Fazenda Santa Lourdes

Itapura:

Fazenda Cachoeirinha