Título: Iniciativa de Condoleezza termina em fracasso
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2007, Internacional, p. A8
A mais séria iniciativa patrocinada pelos EUA nos últimos quatro anos para revigorar as negociações de paz entre israelenses e palestinos terminou ontem sem nenhum resultado concreto. Após um esperado encontro, em Jerusalém, entre o presidente palestino, Mahmud Abbas, o primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, e a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, os três líderes nem sequer fizeram um comunicado conjunto - um sinal de que não chegaram a um acordo em quase nenhum tema tratado.
A única decisão anunciada por Condoleezza após a reunião foi a disposição de Abbas e Olmert se reunirem novamente ¿em breve¿, ainda sob mediação americana. ¿Asseguramos nosso compromisso com a solução de dois Estados (um israelense, outro palestino) e concordamos que um Estado palestino não poderá nascer do terror e da violência¿, disse Condoleezza, num discurso repleto de retórica e simbolismo, mas sem anúncios de medidas que sinalizariam uma maior cooperação entre israelenses e palestinos.
O objetivo original do encontro era retomar o diálogo para a paz na região. Durante grande parte do tempo, porém, o foco das discussões foi o governo de coalizão palestino, que o partido laico Fatah, de Abbas, está prestes a formar com o grupo islâmico Hamas - considerado terrorista pelos EUA, a União Européia e Israel.
O assunto tem sido fonte de grande tensão entre as três partes, porque os americanos e israelenses ameaçam não reconhecer o novo governo palestino se ele não renunciar à violência, não aceitar a existência do Estado israelense e não se comprometer com os acordos de paz assinados no passado - exigências formuladas pelo chamado Quarteto de Paz para o Oriente Médio (EUA, Rússia, UE e ONU) que o Hamas se recusa a cumprir.
Durante o encontro, Olmert teria colocado para Abbas mais duas condições para dialogar com o novo governo: o fim dos ataques contra o território israelense a partir da Faixa de Gaza e a libertação do soldado Gilad Shalit, preso em junho por milícias palestinas. Depois, ele teria confirmado para os deputados de seu partido, o Kadima, que os EUA não reconhecerão um governo que não cumpra as exigências do Quarteto.
Em comunicado, o Fatah classificou a reunião a três como ¿um grande fracasso¿ e acusou a Casa Branca de ceder às ¿pressões de Israel¿ para se afastar do governo palestino. ¿Lamentamos a falta de determinação dos EUA frente à pressão israelense¿, diz o documento, assinado por Alhu Rani, um dos dirigentes do partido.
O acordo entre o Hamas e o Fatah para formar um governo conjunto foi assinado em Meca, na Arábia Saudita, e acabou com os conflitos entre militantes das duas facções palestinas, que desde janeiro haviam deixado mais de 90 mortos.
A idéia era que o acordo convencesse a comunidade internacional a levantar as sanções econômicas impostas à Autoridade Palestina quando o Hamas venceu as eleições legislativas e assumiu o controle do governo da região, no início do ano passado.