Título: Em nova onda de invasões, MST se une à CUT e ocupa 12 áreas em SP
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2007, Nacional, p. A4
O Movimento dos Sem-Terra (MST) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) se uniram para fazer um verdadeiro arrastão, ontem, em fazendas do Pontal do Paranapanema e da Alta Paulista, no oeste do Estado de São Paulo. Foram invadidas 12 fazendas, num total de 15,6 mil hectares, em 9 municípios.
Somente o MST mobilizou 1.050 famílias de 23 acampamentos - os sindicatos da região reuniram mais 800 trabalhadores rurais. Estão previstas para hoje novas invasões na região de Araçatuba. É a primeira grande ação conjunta do movimento social com sindicatos ligados ao PT no Estado de São Paulo. O líder do MST José Rainha Júnior disse que os objetivos são cobrar do governo que a reforma agrária seja encarada como uma emergência e chamar a atenção para os problemas sociais decorrentes da expansão da cana-de-açúcar no Estado.
Em manifesto conjunto, MST, CUT, sindicatos dos trabalhadores na agricultura familiar e sindicatos de empregados informaram que os imóveis invadidos são improdutivos, com decretos de desapropriação já expedidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ou são terras apontadas como devolutas pelo governo do Estado. ¿Esta ocupação tem como objetivo denunciar a dura realidade da reforma agrária no País. Em Andradina, Araçatuba e Jales os imóveis estão com decisão de improdutividade e imissão na posse em 1ª instância, porém acabam emperradas no Tribunal Regional Federal. É a justiça da elite que faz o jogo dos grileiros contra os interesses dos trabalhadores¿, diz a nota. ¿O Incra tem se demonstrado incapaz de imitir a posse das fazendas declaradas como improdutivas.¿
As entidades reafirmam o ¿compromisso¿ com o governo Lula e dão um voto de confiança ao governador de São Paulo, José Serra (PSDB). A ação, em pleno domingo de carnaval, logo cedo, pegou de surpresa a Polícia Militar e os próprios fazendeiros. Ao meio-dia, quando todas as áreas já tinham sido invadidas, o comando da PM na região não tinha sido informado das ações.
Sem-terra e sindicalistas agiram simultaneamente em várias frentes e quase não encontraram resistência. Em algumas fazendas, os empregados apenas observaram o rompimento das cercas e a entrada dos invasores: os patrões tinham viajado para aproveitar o feriado prolongado. Apenas na Fazenda São Diogo, em Dracena, o proprietário Diogo Peres esteve no local e discutiu com os sem-terra, mas nada pôde fazer ante quase 100 invasores. Segundo ele, a área é produtiva e o pasto faz parte do sistema de rotação de pastagens. Peres saiu do local para procurar a polícia e deve pedir a reintegração de posse na quarta-feira.
CAFÉ Às 5 da manhã, o líder José Cícero dos Santos, o Zezão, já estava na frente do seu barraco, no Acampamento Nova Esperança, na beira da rodovia que liga Ouro Verde a Dracena, na Alta Paulista. Recebia os visitantes com copos de café. Eram cortadores de cana, como Aparecido Martins de Oliveira, que chegavam para sua primeira invasão. ¿Sou canavieiro, mas isso não impede que a gente também queira ter uma terrinha.¿ Dezenas de bóias-frias vinham de carro ou bicicleta. Muitos eram cortadores em usinas de açúcar e álcool da região. Um ônibus, usado para o transporte de bóias-frias, e um caminhão chegaram quando o dia amanheceu. O comboio deixou o acampamento e percorreu 30 quilômetros de estradas de terra até chegar ao alvo: a Fazenda São Diogo, no distrito de Jaciporã.
Com golpes de martelo e talhadeira, o cadeado do portão foi arrombado. O grupo se espalhou e começou a limpar a área para a montagem dos barracos. A bandeira do MST foi fincada perto de um imenso pé de angico.
Segundo Zezão, a expansão dos canaviais na região engrossa o MST. ¿Tem tanto cortador entrando no movimento que até acabou o boné. Todo cortador quer plantar também.¿ Foi isso que favoreceu a união dos sindicatos com o MST, afirma. ¿O pessoal viu que o movimento sabe organizar a luta.¿