Título: Lula se antecipa a Bush e vai ao Uruguai
Autor: Manzano Filho, Gabriel
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2007, Nacional, p. A6

Assustado com o possível avanço de Uruguai e Estados Unidos rumo a um Tratado de Livre Comércio e empenhado em segurar o Uruguai no Mercosul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá viajar até Montevidéu no próximo domingo, 25 - exatos dez dias antes da visita do presidente americano George W. Bush ao seu colega uruguaio Tabaré Vázquez.

O encontro entre Lula e Vázquez, segundo fontes do Itamaraty citadas ontem pelo jornal argentino El Clarín, deve ocorrer já no domingo à noite, mas ainda não foi confirmado pelo governo brasileiro. A partir de 8 de março o presidente Bush inicia uma visita de sete dias a Brasil, Uruguai, Colômbia, Peru e México. Traz consigo uma comitiva de alto nível que inclui a secretária de Estado Condoleezza Rice.

A viagem a Montevidéu tem tudo para ser, para Lula, um teste de paciência. Em novembro passado ele desfeiteou o presidente uruguaio não comparecendo à Cúpula Ibero-americana por ele promovida. Além desse gesto pouco simpático, que tentará neutralizar, Lula arrisca-se a ouvir do anfitrião um pedido incômodo: que o apóie em sua disputa com a Argentina a respeito das fábricas de papel que pretende instalar junto à fronteira.

A aproximação entre uruguaios e americanos, que pode ser um novo teste para o Mercosul, vem acontecendo aos poucos. Começou em maio de 2006, quando Tabaré Vázquez foi a Washington e Bush lhe propôs o Tratado de Livre Comércio. Em janeiro passado, os dois países assinaram um Acordo de Investimentos que abre caminho para o TLC. Se este chegar a ser assinado, o Mercosul perde muito de sua importância para Montevidéu - e esse risco aparece num momento em que o Paraguai caminha para uma eleição presidencial na qual os dois principais candidatos têm anunciado posições pouco simpáticas ao Brasil.

Na agenda formal, o Uruguai pretende pedir a Bush facilidades para suas exportações de leite, carne e produtos têxteis. Se conseguir sucesso, os acordos regionais passam a segundo plano. Em troca, Washington deverá pedir facilidades para a venda de serviços, o que pode afetar o comércio com o Brasil.

No Itamaraty se admite que não passou de cortesia a afirmação do subsecretário americano Nicholas Burns - que visitou a região na semana passada - de que seu governo não quer o fracasso do Mercosul. A realidade é bem outra: desde que o Brasil trabalhou para barrar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), a Casa Branca vem trabalhando por esse livre comércio em tratados bilaterais, um a um, com os governos mais frágeis da região.