Título: Carros-bomba matam 60 em Bagdá
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2007, Internacional, p. A7

Dois carros-bomba explodiram em uma área xiita em Bagdá, matando ao menos 62 pessoas, no pior atentado desde o início da implementação do novo plano de segurança para a capital, há quatro dias.

Os dois veículos foram detonados quase ao mesmo tempo numa área comercial lotada no bairro de Nova Bagdá, a leste da cidade. A primeira explosão atingiu uma barraca de verduras e a segunda, uma loja de materiais elétricos. A polícia informou que pelo menos 130 pessoas foram feridas. ¿Onde está o plano de segurança?¿, gritou um parente de uma vítima, enquanto aguardava em frente a um hospital.

Segundo a agência de notícias Reuters - que tem um fotógrafo acompanhando os militares dos EUA -, 15 minutos antes do atentado uma patrulha com soldados americanos e iraquianos parou para tirar fotos na esquina onde ocorreu a segunda explosão em Nova Bagdá.

Mercados e áreas comerciais têm se tornado um dos principais alvos de ataques na capital iraquiana, por reunirem uma grande quantidade de pessoas num espaço delimitado. Ainda na semana passada, um atentado numa galeria em Shorja, no centro, matou 71 pessoas.

Enquanto civis e equipes de resgate ainda transportavam os feridos de Nova Bagdá, um outro ataque ocorreu na cidade: um carro cheio de explosivos foi detonado próximo a um posto de controle no reduto xiita de Cidade Sadr, deixando 2 mortos e 11 feridos.

O bairro abriga o Exército Mehdi, milícia do clérigo xiita antiamericano Muqtada al-Sadr, que é considerada responsável por boa parte dos ataques a sunitas no país. Desde que o plano de segurança foi implementado, o Mehdi vinha agindo pouco; Sadr teria até ordenado que seus líderes saíssem do Iraque para facilitar a aplicação do plano. Suspeita-se então que milícias rivais tenham se aproveitado desse ¿silêncio¿ do Mehdi para atacar seu reduto, Cidade Sadr, e Nova Bagdá, bairro também de maioria xiita.

Há dois dias, o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, havia considerado o plano de segurança um ¿brilhante sucesso¿. Já os militares americanos foram mais cautelosos e alertaram para o fato de que a calma aparente dos últimos dias podia ser temporária.

Ainda ontem foram reabertos dois pontos de passagem na fronteira com a Síria e quatro na divisa com o Irã. O fechamento das fronteiras - um dos principais pontos do novo projeto de segurança - foi decidido há três dias para tentar barrar a entrada de armas e rebeldes no Iraque. Segundo um general iraquiano, novos pontos de passagem serão reabertos ¿gradualmente¿.

PERIGO NO AR

Documentos capturados com insurgentes iraquianos indicam que a maioria dos recentes ataques a helicópteros americanos foi cuidadosamente planejada pelos rebeldes. De acordo com um relatório do governo dos EUA obtido pelo jornal New York Times, os documentos pertenciam a militantes da Al-Qaeda que agiam próximo a Bagdá e detalhavam planos de ¿concentrar na força aérea¿ usando diversos tipos de armas, como metralhadoras, mísseis e foguetes. No relatório, militares reconhecem que os rebeldes estão ¿se adaptando à batalha¿ e vão aumentar seus ataques.

Sete helicópteros americanos caíram no Iraque desde 20 de janeiro - o Exército já admitiu que cinco deles foram abatidos. O número excede o total de quedas de aeronaves durante todo o ano passado.