Título: Chávez abastecerá ônibus de Londres
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2007, Internacional, p. A8
Em mais uma ousada etapa de sua política que ficou conhecida como ¿diplomacia do petróleo¿, a Venezuela do presidente Hugo Chávez vai fornecer combustível com desconto para os ônibus vermelhos que são um ícone de Londres. O prefeito da cidade, Ken Livingstone, assinou ontem o contrato com a estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA).
Livingstone, um socialista conhecido na Grã-Bretanha como ¿Ken, o Vermelho¿, reuniu-se com Chávez no ano passado na sede da prefeitura para discutir o contrato de fornecimento de combustível barato para Londres em troca de consultoria para o planejamento urbano de Caracas, a capital venezuelana. O prefeito saudou ontem a formalização do acordo, qualificando-o de ¿uma sugestão iluminada do líder Hugo Chávez¿.
A Venezuela tem assinado contratos semelhantes com cidades de vários países, incluindo algumas americanas. Analistas atribuem à diplomacia do petróleo o objetivo de ampliar a influência de Chávez no exterior e de constranger o presidente dos EUA, George W. Bush, de quem Chávez constantemente caçoa.
¿A idéia do presidente Chávez soma-se ao trabalho que ele vem fazendo ao redor do mundo para atacar o problema da pobreza¿, disse Livingstone.
Com o acordo, Londres reduzirá sua despesa com combustível em 20%. Segundo Livingstone, essa redução poderá baratear em até 50%para 250 mil londrinos de baixa renda.
Nas próximas semanas, a prefeitura de Londres começará a instalar um escritório em Caracas para fazer estudos e recomendações sobre planejamento urbano da caótica capital venezuelana.
¿Logo veremos diferentes projetos que beneficiarão a população venezuelana¿, informou o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, que representou o governo na cerimônia da assinatura do contrato, em Londres.
Mas o acordo recebeu, ontem mesmo, duras críticas da oposição a Livingstone. Conservadores do conselho municipal - equivalente às câmaras de vereadores brasileiras - declararam que Londres não devia estar fazendo negócios com ¿ditadores sul-americanos de terceira categoria cujos antecedentes em questões referentes aos direitos humanos e as práticas democráticas são estarrecedores¿.
¿Por que Londres, uma das capitais mais ricas do mundo, precisa explorar um país em desenvolvimento?¿, perguntou Richard Barnes, vice-líder dos conservadores do conselho londrino. ¿Esse dinheiro poderia ser mais bem aproveitado se fosse direcionado aos pobres da Venezuela.¿
DIPLOMACIA DO PETRÓLEO
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