Título: Amazônia é o tema da campanha da CNBB
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2007, Vida&, p. A10

A onda de discussões sobre temas ambientais, iniciada há três semanas com a divulgação de um estudo internacional sobre o aquecimento do planeta, ganha um novo reforço hoje, com o lançamento da Campanha da Fraternidade 2007. Neste ano, a Igreja escolheu como tema 'Fraternidade e Amazônia - Vida e missão neste chão'. Pura coincidência. O tema estava definido havia dois anos.

A idéia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é revelar a seus fiéis a realidade da Amazônia, as dificuldades em que vivem seus habitantes e, sobretudo, mostrar como a mudança de hábitos pode trazer benefícios para a região. 'A revisão dos padrões de consumo e a ênfase para que governos adotem políticas que proporcionem o desenvolvimento sustentável da Amazônia são uma forma de fraternidade', diz o secretário-executivo da campanha, cônego José Carlos Dias Toffoli, o padre Carlão.

O texto básico da campanha é um verdadeiro libelo. Traz desde as estatísticas que retratam as desigualdades entre os habitantes da Amazônia e o restante do País à lista das conseqüências nefastas da militarização, do tráfico de drogas, os problemas da ocupação de terra e a disputa por territórios.

No trecho sobre os objetivos da campanha, o documento recomenda: 'Denunciar as situações que agridem a vida, ameaçam os povos e projetos de dominação que perpetuam modelos econômicos colonialistas'.

Esta é a terceira vez, em 43 anos, que a CNBB aborda um tema ligado a questões ambientais. Em 1979, o lema foi 'Preserve o que é de todos' e, em 2004, a água e seu uso racional. Desta vez, no entanto, há uma mescla entre a preservação do ambiente e a necessidade de melhorar as condições de vida da população da Amazônia - uma campanha sócio-ambiental.

O lançamento oficial da campanha será em uma ilha próxima a Belém (PA). Estarão presentes a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e a secretária de coordenação da Amazônia, Muriel Saragoussi. 'Antes de mais nada, é uma campanha educativa', avalia Muriel.

Ela observa que, entre seus muitos mitos, o Brasil perpetua o da Amazônia e seu povo. 'É preciso ir além do folclore. Há uma relação muito especial entre o homem e a natureza naquela região', afirma Muriel. 'E não há apenas um povo, não é uma Amazônia, são várias: a das águas, a da terra firme, a das cidades.'

Para Muriel, o tema da campanha representa mais do que uma coincidência. É um importante aliado num momento em que o meio ambiente passou a ser tratado como a pedra no sapato para o desenvolvimento. 'Desenvolvimento não é sinônimo de obra. É muito mais que isso. E é algo que tentamos colocar em prática, por exemplo, com o projeto da BR-163.'

O texto da CNBB faz coro ao discurso de Muriel: 'Mesmo sabendo que as populações da Amazônia precisam de estradas, de energia, de comunicação, preocupa-nos que as prioridades de investimento sejam direcionadas aos interesses do capital. A abertura de estradas não pode continuar estimulando o aumento do desmatamento, a invasão das terras indígenas e o incentivo à grilagem. As barragens não podem continuar significando remoção de povoados inteiros , alagamento de vastas áreas de florestas, ocupações de terras. As hidrovias não podem trazer o desequilíbrio ambiental, o assoreamento dos rios, o prejuízo à fauna e à flora aquática'.

PONTO DE PARTIDA

A coordenadora da ONG WWF-Brasil, Denise Hamu, elogiou a iniciativa da CNBB. 'A Igreja tem uma influência, uma capilaridade muito grande. E a mensagem pode não só alertar para a importância da preservação da região, mas despertar o orgulho dela.'

Denise observa que o País precisa encontrar variáveis inovadoras para o desenvolvimento e despertar para o fato de que meio ambiente não é entrave, mas uma oportunidade. 'O modelo predatório há muito não serve mais. Claro que na nova linha é preciso planejamento', observa. Isso leva tempo. Mas poderia ser muito menos se a lógica dos empreendimentos fosse revertida. 'Depois de pronto o projeto, empreendedores vão pensar na parte ambiental. A lógica deveria ser outra: o meio ambiente como ponto de partida.'