Título: 'O Brasil continua a atrair o investidor'
Autor: Gobetti, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2007, Economia, p. B1

Will Landers, apesar do nome, é um paulistano que viveu em São Paulo até os 14 anos, quando se mudou com os pais para os Estados Unidos. Ele concluiu os estudos por lá e ingressou no mercado financeiro. Hoje é gestor sênior da Blacrock Inc., uma administradora de recursos independente que tem 49,5% das ações nas mãos da gigante Merril Lynch. Landers administra US$ 5 bilhões em três fundos de investimento que aplicam em ativos latino-americanos. Nos últimos três anos, os fundos tiveram retorno médio, em dólar, de 49%.

¿A América Latina como um todo, e o Brasil especificamente, continuam a ser muito atrativos para o investidor estrangeiro porque são mercados que negociam múltiplos mais baixos do que outros emergentes¿, diz. Em bom português, significa que as bolsas da região estão baratas comparadas com o resto do mundo. Landers conversou com o Estado, por telefone, de Princeton, onde fica seu escritório.

O sr. percebeu, nas últimas semanas, um aumento do interesse dos investidores pelo Brasil?

Sim, nossos fundos dedicados à América Latina receberam dinheiro novo nos últimos dias. Tivemos um período bom no fim de dezembro, no início de janeiro foi meio devagar, mas em fevereiro começou a esquentar de novo.

Por quê?

A América Latina como um todo, e o Brasil especificamente, continuam a ser muito atrativos para o investidor estrangeiro porque são mercados que negociam múltiplos mais baixos do que outros mercados emergentes. O Brasil é o mercado mais atrativo na relação preço/lucro em 2007. Além disso, é o país que tem crescimento de resultado de empresas mais forte entre os emergentes. Embora o Brasil cresça menos do que a China e a Índia, as empresas brasileiras têm resultados melhores do que nesses outros países. A expectativa é de que os resultados em dólar cresçam 20% este ano no Brasil.

A ata do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), divulgada em janeiro, assustou os investidores?

Deu uma pausa, mas os riscos do Fed são bem baixos no momento. Nossa expectativa é de que o Fed não mexerá na taxa de juros por um bom tempo e que o próximo movimento será de um corte de 0,25 ponto porcentual, provavelmente na segunda metade do ano.

A decisão do BC de reduzir o ritmo de corte da Selic tem sido responsabilizada, em parte, por essa entrada de dinheiro nos últimos dias. Faz sentido o argumento?

Não. O BC tem agido de forma cautelosa nos últimos anos e tem dado certo tanto para o mercado quanto para a economia brasileira. Logo depois do corte de 0,25 ponto, saiu o dado de produção industrial de dezembro, mais forte do que o esperado. Creio que o BC já estava ciente desse número e, por isso, reduziu o ritmo de corte. Mas achamos que ainda há espaço para manter os cortes da Selic até chegar a 11%, 11,5% no fim do ano. As reduções vão continuar em 2008.

Em termos de retorno para o investidor, como o Brasil se situa em relação aos outros países do Bric?

Nos últimos três anos, o Brasil - e a América Latina como um todo - foi o mercado com os melhores retornos do mundo. Na Rússia, o mercado é muito dominado por petróleo. A Índia é um mercado que negocia mais de duas vezes os múltiplos do mercado brasileiro e tem riscos macroeconômicos de médio prazo maiores que os do Brasil. A China é uma incógnita, você não sabe em que exatamente está investindo e o governo tem participação acionária grande nas empresas.

Qual o retorno médio dos fundos de vocês voltados para AL nos últimos três anos?

49% em dólar.

Qual o perfil do investidor que aplica nesses fundos?

Nossos fundos têm vários tipos de investidor. Hoje, temos três fundos para a América Latina. Temos um fundo mútuo nos EUA, voltado para pessoas físicas, que tem também pequenas empresas americanas. Seu patrimônio é de US$ 500 milhões. Temos outro fundo, listado em Luxemburgo, com investidores do mundo todo, fora EUA. Dez por cento estão nas mãos de fundos de pensão chilenos, 25% com asiáticos e o restante com europeus. Seu patrimônio é pouco superior a US$ 4 bilhões hoje. Há ainda um fundo de US$ 400 milhões, listado na Bolsa de Londres, mas esse é fechado.

O investment grade realmente fará diferença em termos de investimentos no Brasil?

Abrirá um pouco o leque dos investidores. Na prática, porém, com um risco abaixo de 200 pontos, o Brasil já negocia, na parte de renda fixa, como se já fosse um país investment grade. Mas não há dúvidas de que mudará o patamar do Brasil.

Quando vocês acham que o Brasil será investment grade?

Na melhor das hipóteses, no fim do ano que vem.

Quais são as principais apostas de vocês hoje?

60% de nosso patrimônio de América Latina está no Brasil. É uma carteira diversificada, com 35 empresas, desde grandes, como Petrobrás e Vale, até setores como imobiliário, varejo e financeiro.

O que projetam para o Ibovespa este ano?

Trabalhamos com o Ibovespa a 54 mil pontos no fim do ano, mas esse não é nosso forte. Um retorno de 25% do Ibovespa não é nada fora do comum para este ano.