Título: Aço brasileiro terá ajuda chinesa
Autor: Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2007, Negócios, p. B9

A siderurgia brasileira aguarda com ansiedade uma medida do governo chinês contra as próprias exportações de aço. Pressionados pelos governos dos Estados Unidos e da Comunidade Européia, os chineses devem anunciar nas próximas semanas uma medida que tirará vantagens dos exportadores do país.

A previsão é que o governo de Pequim reduza de 8% para zero e, para alguns produtos, 3% os créditos devolvidos do imposto de 17% pago pelos produtos ao exportar o aço. A medida elevará o preço do aço chinês no mercado internacional em pelo menos 10%, avalia Rodrigo Barros, analista de siderurgia da Unibanco Corretora.

Embora a siderurgia brasileira não sofra a concorrência direta dos chineses no Brasil, o repentino crescimento das exportações da China em 2006 alcançou mercados disputados também pelas siderúrgicas brasileiras.

¿Não será um benefício exclusivo para o setor siderúrgico brasileiro, mas todas as empresas serão beneficiadas¿, pondera Renato Vallerini , diretor de comercialização para o mercado externo do Sistema Usiminas-Cosipa.

De fato, o mercado mundial anda preocupado com a expansão da produção chinesa. Em 2006, a produção total de aço dos chineses atingiu 417 milhões de toneladas, crescimento de 18,5% em um ano. De importador, a China se tornou um exportador de aço. Em 2006, o país exportou 43 milhões de toneladas, mais do que a toda a produção brasileira.

Um ano antes, o país não havia exportado uma única tonelada de aço. Com a importação de 19 milhões de toneladas, a China teve uma exportação líquida de 24 milhões de toneladas. No ano passado, o Instituto Latino Americano de Ferro e Aço (Ilafa) soltou um alerta sobre o risco de a super-produção chinesa desorganizar o mercado mundial de aço.

Segundo Vallerini, o corte do crédito ao exportador chinês, parcial ou total, tem o efeito de pelo menos manter o atual volume de exportações da China. Há inclusive, de acordo com ele, chances de as exportações chinesas caírem até o fim do ano.

José Marcos Trieger, diretor de relações com investidores da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), avalia que a medida é capaz de tornar o preço mundial do aço ¿menos imponderável¿. No fim de 2006, era exatamente esta a perspectiva do mercado mundial: exportações crescentes da China e queda de preços.

¿A previsão inicial de que os preços cairiam poderá ser refeita, com a perspectiva de que os preços se mantenham em patamar favorável¿, diz Trieger. O surgimento repentino da China como um grande exportador mundial de aço se tornou uma ameaça ao equilíbrio de preços. O fato é que a China, como de resto, ficou grande demais na produção de aço. Hoje, um terço da produção mundial está lá. Embora o consumo interno seja muito forte (mais de 370 milhões de toneladas em 2006, 10 vezes a produção brasileira), uma ligeira queda do consumo interno pode provocar muitos problemas no balanço mundial de oferta e demanda de aço.

A CSN acha que o beneficiou que poderá obter com a retração das exportações chinesas será limitado, já que Pequim deverá tirar o benefício de produtos com menor valor agregado, em que a empresa não tem grande participação.

Mesmo assim, a Unibanco Corretora tem emitido boletins recomendando a compra de ações das siderúrgicas brasileiras, exatamente prevendo melhores resultados das exportações. Segundo Rodrigo Barros, analista de siderurgia do Unibanco, há ¿95% de chance¿ de a medida ser tomada nas próximas semanas.