Título: Livros obrigatórios criam polêmica
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2007, Nacional, p. A4
Uma das críticas do embaixador Roberto Abdenur ao Itamaraty, a de que o secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães obrigava os diplomatas a ler certos livros claramente antiamericanos, gerou uma breve polêmica entre ele e o senador Eduardo Suplicy. 'As leituras eram apenas sugeridas', disse o senador. 'Não, elas eram forçadas', replicou no ato Abdenur.
Quatro títulos foram mencionados - e, com exceção da biografia do Barão do Rio Branco, do diplomata Álvaro Lins, os demais foram definidos por Abdenur como o retorno 'de uma política nacional-desenvolvimentista, antiimperialista e protecionista' dos anos 60. Os outros livros eram Chutando a Escada (Unesp), do coreano Ha-Joon Chang, Pensamento Econômico Brasileiro (Record), de Ricardo Bielschowsky, e Brasil, Argentina e EUA: Conflito e Integração (Record), de Luiz Alberto Moniz Bandeira.
Para Abdenur, impor tais leituras 'é uma coisa ultrapassada'. O Itamaraty, comentou, 'não é um Vaticano em que os padres tenham de dizer o mesmo missário' e 'o chefe da casa não tem o direito de impor aos subordinados suas preferências. Nem de poesia nem de futebol nem de política externa'.
De sua casa em Saint-Leon, cidadezinha perto de Heidelberg, na Alemanha, o professor Moniz Bandeira rebateu a acusação de que seu livro tenha 'ranço ideológico'. 'Se expor a realidade é ser antiamericano, então eu sou', disse ele. 'Se um livro, por dizer que os EUA fracassaram no Iraque, é antiamericano, então o meu é'.
Bandeira lembra que seu livro recebeu importantes elogios de figuras como Rubens Ricupero. Chutando a Escada é uma análise em que o coreano Chang sustenta que países desenvolvidos procuram impedir que os mais fracos sigam os caminhos que os tornaram fortes. Eles 'chutam a escada' para que outros não tenham como subir. E Pensamento Econômico é um compêndio de idéias econômicas importantes que influíram na formação da economia brasileira.