Título: Bancada na Câmara abre mão de Ministério da Saúde
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2007, Nacional, p. A8

Os deputados federais do PMDB negaram-se a atender ao apelo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que patrocinassem a indicação do médico José Gomes Temporão ao cargo de ministro da Saúde, dificultando ainda mais os arranjos políticos da reforma ministerial. Em vez de apadrinharem a escolha do técnico para o ministério, os peemedebistas preferiram abrir mão de reivindicar o comando da Saúde e liberar o presidente Lula para escolher o ministro que bem entender. Mas a bancada federal continua pleiteando dois ministérios.

A decisão do partido foi informada no fim da tarde de ontem ao ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, pelo presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP). Foi uma conversa rápida, de apenas 15 minutos, mas o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que também participou do encontro, garante que não houve briga, rompimento, nem tampouco mudança nas pretensões peemedebistas.

Além da Integração Nacional, que pode ficar com o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), a bancada federal quer o comando de uma segunda pasta, ainda em aberto. Setores da bancada movimentam-se para pôr o deputado Fernando Diniz (PMDB-MG) na cadeira de ministro dos Transportes.

'Queremos exatamente o que os outros partidos da base estão tendo, que é a oportunidade de fazer indicações partidárias legítimas, à luz do dia e dentro dos critérios de competência e honestidade', resumiu o líder depois da conversa. 'Aguardamos paciente e confiantemente os espaços assegurados verbalmente à bancada, pelo próprio presidente, de forma a manter o equilíbrio entre o PMDB da Câmara e do Senado', completou o líder Henrique Alves.

O PMDB chegou a sugerir que Temporão fosse nomeado secretário-executivo do Ministério da Saúde, mas Tarso Genro disse que o presidente entende que ele tem estatura para ser ministro.

A bancada federal também já deixou claro que, se não for atendida, não se sentirá representada no governo nem terá compromisso com o Planalto. Ainda assim, os peemedebistas deixaram o gabinete de Tarso ontem dizendo que o ministro tem sido 'muito compreensivo' e que o partido quer colaborar.

DEPUTADOS X SENADORES

'Como estamos na coalizão para contribuir de verdade, sem fingir que achamos bom e que estamos participando, retiramos a Saúde das possíveis demandas da bancada', insistiu o líder, ao lembrar que a cota dos senadores do PMDB na Esplanada dos Ministérios é dupla: além do Ministério das Comunicações, que tem à frente o senador Hélio Costa (MG), ela inclui o ministro Silas Rondeau, das Minas e Energia, uma indicação do senador José Sarney (PMDB-AP).

Os 90 deputados peemedebistas não se conformam em ter um espaço de poder menor que o dos senadores e a sucessão na presidência do PMDB, marcada para 11 de março, está esquentando a briga entre Câmara e Senado.

Adversário de Temer na disputa pela reeleição, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim tem o apoio ostensivo de Sarney e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).