Título: Intensidade do ajuste surpreende os analistas
Autor: Caminoto, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2007, Economia, p. B3
¿A tempestade finalmente chegou, mas tenho que desligar que a coisa está feia.¿ Essa foi a reação de um graduado estrategista para países emergentes de um banco britânico questionado pelo Estado durante o pico do nervosismo que assolou os mercados internacionais, ontem. Embora uma correção nos ativos financeiros internacionais fosse esperada há tempos, por estarem em níveis considerados excessivamente valorizados, a intensidade do ajuste de ontem e, principalmente, o seu epicentro, a China e não os Estados Unidos, surpreenderam os analistas.
Mas, com os índices em suas telas de computador todos no vermelho, analistas de bancos e fundos de investimentos procuraram manter o sangue-frio. A maioria acredita que o salto na aversão ao risco e pressão sobre os ativos de mercados emergentes deve continuar por mais alguns dias, mas, por enquanto, a aposta é de que se trata de um movimento temporário.
O início da volatilidade começou cedo, na China, onde a Bolsa de Valores de Xangai despencou 8,8%, assolada por rumores de que as autoridades chinesas planejam coibir investimentos ou adotar outras medidas de aperto monetário.
Mas a onda de nervosismo não foi alimentada apenas pelo gigante asiático. Recentes indicadores nos Estados Unidos que enfraquecem a tese do ¿pouso suave¿ na economia também pesaram no sentimento dos investidores. O tom mais beligerante adotado por Washington em torno do programa nuclear iraniano ajudou a acentuar a incerteza e a corrida por refúgios tradicionalmente considerados mais seguros nesses episódios, como as letras do Tesouro americano ou o franco suíço.
O estrategista para mercados emergentes do banco ING Luis Costa salientou que, embora as atenções estejam na China, o principal canal de transmissão da correção de ontem se concentrou no iene e no franco suíço, que se fortaleceram. A moeda japonesa é a principal financiadora dos carry trades, ou operação de carregamentos, nas quais os investidores utilizam recursos financeiros de um país com juros baixos para investi-los em mercados com retornos mais altos.
Por isso, moedas e ações de países como Hungria, Brasil e Turquia, entre outros emergentes, despencaram. ¿O que está acontecendo de fato é um forte movimento cambial global, principalmente com a desmontagem de posições financiadas pelo iene¿, disse Costa . ¿Trata-se de um movimento orquestrado, de redução ao risco.¿
Embora acredite que essa correção deverá continuar por mais algum tempo, Costa não a considera sustentável. ¿Se eu tivesse posições financiadas pelo iene ou franco suíço no real brasileiro, lira turca ou outras moedas de maior retorno, não estaria muito preocupado, pois as condições favoráveis para esses ativos ainda continuam válidas¿, afirmou o analista. ¿Não me parece o fim do mundo, mas sim um mal-estar passageiro.¿ Costa, no entanto, observou que os mercados a partir de agora estarão fadados a sofrer maior volatilidade.
Chefe de estratégia para mercados emergentes do Royal Bank of Scotland, Gene Frieda disse que o mercado acionário chinês tem pouca correlação com as bolsas de valores emergentes. ¿Os fluxos de investimentos estrangeiros nos mercados acionários da China se aceleraram nos últimos meses, mas a bolha chinesa é uma criação doméstica.¿
FRASES
Luiz Costa Banco ING
¿Não me parece o fim do mundo, mas sim um mal-estar passageiro¿
¿O que está acontecendo de fato é um forte movimento cambial global¿
Gene Frieda Royal Bank of Scotland
¿Os fluxos de investimentos estrangeiros na China se aceleraram nos últimos meses, mas a bolha chinesa é uma criação doméstica¿