Título: No Senado, PT ataca e oposição defende o BC
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2007, Economia, p. B5
O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, foi salvo pela oposição durante depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, ontem. Depois de ter sua política monetária considerada ¿excessivamente conservadora¿ pelo presidente da CAE, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), Meirelles recebeu manifestações calorosas de apoio do PSDB e do PFL. ¿Seu trabalho é positivo para o Brasil¿, disse o líder dos tucanos no Senado, Arthur Virgílio (AM).
A situação foi tão inusitada que o senador Raimundo Colombo (PFL-SC), no seu primeiro mês de mandato, manifestou surpresa. ¿Me surpreende um pouco ver a oposição defendendo o governo e os governistas atacando¿, afirmou. ¿Pelo menos no que se refere ao Banco Central.¿ O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) chegou a ironizar ao dizer que todos sabem que ¿a oposição maior ao BC é do PT¿.
A política monetária do BC só recebeu críticas de governistas. Além de Mercadante, os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Renato Casagrande (PSB-ES) fizeram restrições.
As críticas de Mercadante foram as mais contundentes. Ele disse, inicialmente, que não estava questionando o sistema de metas de inflação, mas ¿o ritmo de queda dos juros¿. E quis saber em que o Comitê de Política Monetária (Copom) se baseou para reduzir a queda da taxa de 0,5 ponto porcentual para 0,25. ¿Não vejo argumento consistente que justifique a desaceleração do ritmo de cortes.¿
Mercadante lembrou que o IPCA de 2006 ficou em 3,14%, ou seja, 30% abaixo da meta de 4,5%. Segundo ele, a inflação está abaixo da taxa mundial e também em níveis inferiores aos de vários países emergentes.
O presidente da CAE disse que a inflação no Brasil tem ficado abaixo da meta por 10 meses seguidos e as expectativas do mercado para os próximos dois anos seguem esse ritmo. ¿Há espaço, portanto, para acelerar a queda dos juros.¿ Para Mercadante, a trajetória dos juros tem forte impacto no crescimento econômico, nas contas públicas e, de forma indireta, na taxa de câmbio.
Meirelles rebateu as críticas de Mercadante com o argumento de que, nos demais países que adotam o sistema, a maior parte do tempo a inflação fica abaixo do centro da meta. ¿Isso não é errado ou inusitado.¿ O presidente do BC reconheceu que o juro real no Brasil é muito elevado, mas ressaltou que a taxa ¿está caindo de maneira impressionante¿.
Para Arthur Virgílio, só o BC funcionou bem no governo Lula. ¿Tenho restrições ao resto do governo, que nada fez para melhorar a vida do País.¿ Ele disse que não acredita na permanência de Meirelles no cargo. ¿Não vejo futuro para o senhor neste governo.¿
O senador João Tenório (PSDB-AL) defendeu a independência do BC e atacou a ¿gastança¿ do governo, que, para ele, está na base das dificuldades enfrentadas para controlar a inflação. O senador Marconi Perillo (PSDB-GO) disse que Lula ¿não faz o dever de casa¿ ao não conter os gastos públicos.