Título: Em Foz, explosão demográfica e desemprego são foco de tensão
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2007, Especial, p. H4
Estudioso da criminalidade na tríplice fronteira, o sociólogo José Afonso de Oliveira aponta pelo menos duas razões para o alto índice de homicídios de Foz do Iguaçu: a explosão demográfica e o fato de ser cidade fronteiriça. Ele cita ainda a falta de empregos. ¿Cresce o emprego informal, que dá margem ao submundo. A informalidade aqui está muito próxima da ilegalidade e da criminalidade.¿
Além disso, avalia, a convergência de várias legislações faz com que ¿tudo seja mais complicado em área de fronteira¿. Foz do Iguaçu passou de 34 mil habitantes no início dos anos 70 para mais de 300 mil hoje. Mas Oliveira diz que não foram criados empregos no mesmo ritmo e é nesse contexto que ele inclui a criminalidade juvenil: ¿Há muitos homicídios entre eles, na disputa por poder, espaço ou ponto de venda de drogas.¿
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Paraná também culpa a explosão demográfica e lembra que Foz tem média de 506,57 habitantes por quilômetro quadrado, enquanto a do Brasil é de 12 habitantes por quilômetro quadrado. ¿Comparar de maneira simplista os números da criminalidade em Foz do Iguaçu com os de qualquer outra cidade brasileira é, no mínimo, atitude equivocada, que nada colabora para a discussão sobre segurança pública em área de fronteira.¿ A secretaria diz que tem trabalhado para combater o crime na região, ampliando o efetivo policial na cidade e procurando somar ações da polícia e de diferentes órgãos da sociedade organizada.
O promotor de Justiça Renan Gabardo Fava, de Foz, também vê no envolvimento com a droga e o contrabando explicação para os homicídios. ¿Há quadrilhas organizadas que usam adolescentes. Mas complica a vida deles, porque alguns perdem a mercadoria e são obrigados a roubar para pagar, envolvendo-se cada vez mais com a criminalidade.¿ Segundo ele, em Foz são raros os crimes de latrocínio e passionais. ¿Normalmente envolvem tráfico, há muito acerto de contas.¿
O presidente da seção de Foz da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Nilton Luiz Andraschko, acrescentou à lista a repressão à atividade dos chamados ¿formiguinhas¿ - pessoas contratadas para carregar mercadorias contrabandeadas de Ciudad del Este, no Paraguai, pela Ponte da Amizade. ¿A repressão diminuiu as possibilidades de os muambeiros conseguirem algum lucro. É uma atividade ilícita, mas que sustenta muitas famílias.¿
Para ele, antes de fazer a repressão as autoridades deveriam dotar a região de infra-estrutura para absorver mão-de-obra. ¿Inverteram o processo e às pessoas restou partir para o crime ou morrer de fome.¿
O diretor da Receita Federal na região, Gilberto Tragancin, não concorda. ¿Vejo com preocupação esse tipo de pensamento, porque é o mesmo que dizer que precisa primeiro construir presídio para depois prender os bandidos¿, argumenta. ¿Talvez nossas ações já estejam forçando as autoridades a criarem condições de abrigar essas pessoas.¿