Título: Devendo R$ 50 mi, PT pede socorro a simpatizantes
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2007, Nacional, p. A6

Abalado por uma dívida de R$ 50 milhões, que parece se recompor automaticamente toda vez que um débito é quitado, o PT decidiu reconhecer que não será capaz de solucionar o problema sozinho. Apenas alguns meses após anunciar que correrá atrás de filiados inadimplentes, o partido começou a desenhar uma estratégia para buscar recursos junto a empresas, entidades sociais e pessoas físicas com os quais mantém algum tipo de relação.

A forma como esses setores serão abordados ainda não está definida, mas a idéia é mostrar aos possíveis doadores a situação de ¿desgraça¿ gerada pela dívida e explicar que o auxílio financeiro ajudará o PT a dar continuidade a seu projeto para o País. ¿A situação é grave¿, afirma o tesoureiro da legenda, Paulo Ferreira. ¿O PT continua com um endividamento maior que sua capacidade de honrar compromissos.¿

Essa estratégia será conduzida simultaneamente ao plano para conter a evasão de contribuições partidárias, anunciado recentemente pela sigla. De acordo com Ferreira, uma parcela significativa dos filiados que ocupam cargos públicos deixam de repassar uma parte de seus rendimentos aos cofres petistas, conforme exigido pelas normas do partido.

Ele estima que, nos quatro primeiros anos de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT deixou de arrecadar cerca de R$ 30 milhões com o desrespeito à regra. ¿Há petistas de cinco estrelas nessa lista¿, afirma o tesoureiro, acrescentando que a Secretaria de Finanças do PT já começou a enviar cartas a esses filiados pedindo o acerto das contas.

ROMBO

O PT tem de fato encontrado dificuldades para reduzir o nível de endividamento, mas aplicou esforços para enxugar a máquina partidária. Pouco depois da crise do mensalão, quando Ferreira assumiu a Secretaria de Finanças, a sigla registrava dívida total de aproximadamente R$ 55 milhões. Desde então, o partido reduziu custos operacionais, renegociou dívidas e começou a estudar a transferência de sua sede nacional de São Paulo para Brasília, uma operação que será concluída nos próximos meses.

Com isso, o déficit caiu para cerca de R$ 40 milhões em um período de aproximadamente um ano, mas voltou à casa dos R$ 50 milhões quando o partido assumiu a dívida de R$ 10 milhões da campanha à reeleição do presidente Lula, no ano passado. Na época, a equipe financeira da campanha presidencial, liderada pelo tesoureiro José de Filippi Junior, apostava em doações tardias para tapar o buraco. Mas, até agora, o PT só conseguiu R$ 2 milhões por meio dessas contribuições. ¿Estou esperando o Papai Noel chegar, porque até agora o meu presente não veio¿, diz Ferreira, admitindo que será difícil cobrir a dívida eleitoral.

Além disso, grande parte da dívida total petista se refere ao custeio da campanha municipal de 2004. ¿Depois da vitória do presidente Lula em 2002, o partido superestimou suas potencialidades eleitorais¿, explica o tesoureiro. ¿A raiz do endividamento do PT é a campanha de 2004.¿ Nessa época, foram contraídos, por exemplo, empréstimos junto aos bancos BMG, Rural e Banco do Brasil, que hoje geram saldo negativo de R$ 15 milhões ao partido.

Foi na mesma campanha que o PT adquiriu 2,5 milhões de camisetas da Coteminas, uma dívida que hoje gira em torno de R$ 10 milhões. Dentro dos R$ 50 milhões devidos, estão ainda tributos como INSS, Imposto de Renda e FGTS referentes ao empregador, no valor de R$ 3 milhões, além de um leasing de R$ 8 milhões com o Banco do Brasil para a compra de equipamentos de informática. O restante, segundo Ferreira, é referente a fornecedores diversos, como gráficas e companhias aéreas.

Para cobrir suas despesas, o PT conta com uma receita mensal de R$ 2,6 milhões. Desse montante, 75% vem de repasses do Fundo Partidário, 20% resulta das contribuições de filiados que ocupam cargos públicos e 5% é proveniente de repasses de diretórios regionais.