Título: MST invade fazenda em MG e cobra governo
Autor: Kattah, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2007, Nacional, p. A9
Cerca de 300 integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) invadiram ontem a sede da Fazenda Nova Alegria, em Felisburgo, no Vale do Jequitinhonha mineiro. A maioria dos invasores pertence ao acampamento Terra Prometida, que fica na mesma propriedade e que foi palco, em 2004, do assassinato de cinco sem-terra - episódio que ficou conhecido como o Massacre de Felisburgo.
A coordenação do MST na região informou que a ocupação visa a pressionar as autoridades federais e estaduais para que desapropriem toda a fazenda e cobrar a punição dos acusados pelas mortes. De acordo com Helenice Pereira da Silva, coordenadora do MST em Felisburgo, os sem-terra só aceitam negociar diante de autoridades do Incra, da Ouvidoria Agrária Nacional e do Instituto de Terras (Iter) de Minas.
Ela disse que a ocupação envolveu outros acampamentos e foi pacífica. Porém, no boletim de ocorrência da Polícia Militar, o gerente da fazenda, Sebastião dos Santos, afirmou que ele e outros funcionários foram surpreendidos por volta das 5h por 15 homens armados e encapuzados, que os expulsaram da área. O gerente queixou-se de furto de dinheiro.
Helenice disse que desconhecia as acusações e negou a presença de armas de fogo entre os sem-terra, assim como as alegadas ameaças aos funcionários. ¿Eles saíram sem problema¿, disse.
O Ministério Público de Minas Gerais denunciou 15 pessoas por suposta participação na chacina. O proprietário da fazenda, Adriano Chafik Luedy, foi acusado como mandante e executor. Chafik chegou a ser preso e já esteve foragido, mas hoje aguarda julgamento em liberdade. Do grupo acusado, apenas um suposto pistoleiro estaria preso. ¿Se as autoridades não tomarem uma posição urgente, corremos o risco de um novo massacre¿, afirmou a líder do MST.
OUTRAS INVASÕES
Em São Paulo, onde o MST tem feito ações em parceria com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), mais uma fazenda deve ser invadida hoje. O alvo anunciado é uma área com cerca de 900 hectares, no município de Araçatuba, a 545 km da capital. Caso a ação se concretize, será a 14ª área invadida desde o acordo do líder José Rainha Júnior com sindicatos de trabalhadores rurais ligados à CUT, com vistas a pressionar o governador José Serra (PSDB).
Rainha ontem anunciou a desocupação, independentemente de liminares de reintegração, das fazendas invadidas durante o carnaval - 13 ao todo, no Pontal do Paranapanema e na Alta Paulista. Até o final da tarde de ontem, 10 áreas foram desocupadas.
Em Caxias do Sul (RS), 17 sem-terra se enterraram do pescoço para baixo como protesto contra a reintegração de posse de uma área no bairro São Vitor Cohab. Outros 14 se acorrentaram a palanques. A ordem da Justiça acabou cumprida, com auxílio da Brigada Militar.