Título: Compra de dólar pelo BC é recorde
Autor: Freire, Gustavo e Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2007, Economia, p. B1

O Banco Central (BC) aumentou ainda mais, neste mês, o ritmo de aquisição de dólares para segurar a cotação da moeda americana. Em 14 dias úteis, as compras atingiram o recorde de US$ 6,985 bilhões, segundo estimativas do mercado financeiro, feitas com base em dados do próprio BC. Uma média diária de quase US$ 500 milhões. Mantido o ritmo, as reservas internacionais, que estavam em US$ 98,208 bilhões quarta-feira, chegarão a US$ 100 bilhões na próxima semana.

Em janeiro, as compras de moeda americana pelo BC já haviam atingido o recorde de US$ 4,883 bilhões. ¿Foi o valor mais alto desde janeiro de 2004, quando começou o programa de recomposição das reservas internacionais¿, disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Nos primeiros 14 dias úteis de fevereiro, as reservas subiram US$ 7,122 bilhões com as compras do BC e US$ 750 milhões captados pelo Tesouro no exterior.

O consenso no mercado é o de que, sem as compras do BC, a cotação do dólar já estaria abaixo dos R$ 2,00. Nos primeiros 14 dias úteis deste mês, a entrada de capital externo no País, de acordo com o BC, chegou a US$ 5,361 bilhões, acima dos US$ 3,770 bilhões de todo o mês de janeiro. ¿Com todo esse dinheiro, seria difícil segurar a taxa de câmbio sem as intervenções do BC¿, comentou um analista. Mas, mesmo com todo esse esforço, o real ainda teve valorização de 2,64% no período.

O afluxo de recursos externos, segundo os dados do BC, fez com que o País registrasse, em janeiro, superávit de US$ 325 milhões na conta corrente do balanço de pagamentos, que registra entrada e saída de recursos por conta do movimento comercial e operações de serviços. Foi o melhor resultado para o mês desde janeiro de 2005. Em 12 meses, o superávit em conta corrente atingiu US$ 14,16 bilhões, ou 1,47% do PIB.

Lopes disse não saber qual seria o nível adequado de reservas. ¿Se o BC ainda está comprando é porque há espaço¿, afirmou. Para fontes da área econômica, o ideal seria o País ter reservas em níveis próximos aos praticados por emergentes que possuem dívida externa de tamanho equivalente à do Brasil (cerca de 20% do PIB). ¿Olhando por esse critério, nossas reservas ainda são baixas¿, disse um técnico. Países como Rússia, Tailândia, Coréia do Sul e Venezuela têm reservas que variam de 19,4% a 32,3% do PIB, enquanto as brasileiras estão pouco abaixo de 10%.

A opinião, entretanto, não é unânime no mercado. ¿Não podemos ir muito além de algo como US$ 110 bilhões¿, disse o economista Guilherme Loureiro, da Tendências Consultoria. A partir desse valor, segundo ele, o custo fiscal de acumular reservas anularia os benefícios, como a queda do risco Brasil e a melhora do grau de solvência externa do País.

Esse custo é determinado pela diferença entre o rendimento proporcionado pela aplicação das reservas no exterior e o custo dos títulos emitidos pelo governo para enxugar a liquidez do mercado. Ou seja, o diferencial entre taxas de juros externas e internas.

¿Imaginando que o diferencial chegará a cerca de 7% no fim do ano, é possível que o custo pago por termos reservas de US$ 100 bilhões é de US$ 7 bilhões/ano. É algo como 0,75% do PIB. Por muito menos, houve uma grita contra o aumento dos gastos com PPI para 0,5% do PIB¿, disse o diretor do Banco Modal Alexandre Póvoa.