Título: Dólar caminha para R$ 2, dizem analistas
Autor: Brandão Junior, Nilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2007, Economia, p. B4

As pesadas intervenções do Banco Central (BC) no mercado de câmbio nas últimas semanas têm sido insuficientes para impedir a tendência de valorização do real. Por isso, analistas acreditam que a moeda americana deve chegar em breve perto dos R$ 2,00 ou até pouco abaixo disso. O motivo, segundo os especialistas, é a forte entrada de recursos na economia brasileira, tanto na conta de capitais quanto via balança comercial.

Para o economista do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Fernando Cardim, a moeda americana ainda não chegou a um nível mais baixo, entre R$ 1,80 e R$ 1,90, apenas por conta das intervenções do BC, que, segundo ele, não poderão se repetir indefinidamente.

A última vez em que a taxa de câmbio esteve abaixo dos R$ 2,00 foi no dia 16 de fevereiro de 2001, com a cotação de R$ 1,99. De lá para cá, oscilou bastante e chegou a encostar nos R$ 4,00 em outubro de 2002, durante a crise de expectativas que marcou a reta final das eleições presidenciais daquele ano.

Sérgio Valle, economista da MB Associados, avalia que o dólar deve ficar perto de R$ 2,00 em algum momento. ¿Pode ser que rompa essa barreira¿, observou. Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, concorda. ¿Ainda neste semestre é possível que o dólar bata essa barreira, a não ser que haja um fato novo muito importante¿, afirmou.

Agostini lembrou que a desvalorização do dólar é um fenômeno mundial. Segundo ele, há uma grande liquidez global, com aumento dos recursos disponíveis para aplicar nos países em desenvolvimento. ¿Os investidores estão mais dispostos a correr riscos em busca de maiores retornos em países emergentes, como o Brasil¿, disse.

O economista explicou também que, em princípio, os consumidores ganham com a valorização do real, que barateia produtos importados, aumenta a concorrência no mercado doméstico e preserva o poder de fogo dos salários. Isso também contribui para manter a inflação num nível mais baixo.

O superintende de câmbio do Unibanco, Sérgio Meniconi, acredita que o mercado está ¿testando¿ o Banco Central (BC) e deve reduzir a cotação do dólar para menos de R$ 2,05. ¿A perspectiva é de que a taxa caia ainda mais, já que está entrando um fluxo muito forte de dólares por conta do cenário 'maravilha Brasil'. Então, o mercado vai forçar os R$ 2,05 e, quando chegar a esse nível, vai ter mais posição de venda e o dólar deve chegar a R$ 2,00¿, previu Meniconi. ¿O mercado é mais forte que o BC.¿

Se esse cenário se confirmar, Meniconi defende que o BC utilize outros instrumentos, além das compras, para conter a valorização do real. ¿O mercado, em geral, tem recomendação de compra para o Brasil, com a garantia de que o BC vai comprar mais dólares.¿

Segundo Meniconi, o aumento das reservas é interpretado pelos investidores internacionais como fortalecimento das contas brasileiras, provocando uma entrada maior de dólares no País. ¿Com o excesso de liquidez internacional, o dólar não tem para onde ir e vai procurar o Brasil, com uma taxa de juros extremamente alta e um cenário de baixo risco.¿