Título: Parceria em invasões de sem-terra põe líderes da CUT em conflito
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2007, Nacional, p. A4
A onda de invasões comandada pelo líder José Rainha Júnior no interior do Estado de São Paulo, durante o carnaval, pôs em conflito a direção nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e seus representantes na região. A coordenadora regional de Presidente Prudente, Sonia Auxiliadora, disse ontem que a entidade não vai se responsabilizar juridicamente pelas ações dos sindicatos que apoiaram a mobilização liderada por Rainha - na qual um total de 13 fazendas foram ocupadas no fim de semana. No fim da tarde, porém, a diretoria-executiva nacional da central divulgou nota em que apóia as ocupações realizadas no Pontal de Paranapanema, ¿por considerar justa a luta pela reforma agrária no Brasil¿.
A nota, contudo, não levou a coordenadora de Presidente Prudente a reconsiderar sua posição. ¿A CUT é a favor da reforma agrária¿, insistiu ela, ¿mas não participa de ocupações.¿ A participação foi decidida pelos sindicatos, acrescentou, sem o envolvimento da executiva. ¿Não é uma participação da CUT, mas dos sindicatos filiados. Não tem por que a CUT responder.¿
Os sindicatos de trabalhadores rurais filiados à central sindical se juntaram ao grupo do MST liderado por Rainha e invadiram as 13 fazendas, entre domingo e segunda-feira, no Pontal do Paranapanema e na Alta Paulista.
A CUT estadual havia informado, por sua assessoria de imprensa, que a ação conjunta ocorreu à revelia. ¿Não é uma orientação da CUT de São Paulo a ocupação de terras e o MST não faz parte orgânica da central.¿ Segundo o presidente da seção paulista, Edilson de Paula, a central não tomou ¿nenhuma decisão¿ que autorizasse a onda de invasões. A medida, prosseguiu, foi tomada pelos sindicatos da região filiados à CUT. ¿Nós apoiamos e respeitamos a decisão dos sindicatos porque temos uma relação histórica com os movimentos sociais, inclusive com o MST¿, destacou Edilson.
Em seguida, no entanto, entendeu a posição da liderança de Presidente Prudente: ¿Não existe orientação da direção para invasões nem fizemos reunião para deliberar sobre isso. Foi uma decisão regional, não vamos condenar. A CUT sempre respeitou a autonomia dos sindicatos, não interfere em suas decisões.¿
Para ele, ¿as ocupações são justas porque em São Paulo, principalmente nessa região, a reforma agrária não avança¿. Emobra saiba das reivindicações, o Estado ¿não toma medidas para fazer os assentamentos¿. A central admite que ¿é uma situação delicada e a CUT discute exaustivamente antes de tomar decisão que envolva ocupação¿.
SEM RECUO
Os sindicatos envolvidos na operação já avisaram que não pretendem voltar atrás. ¿Nossa luta vai continuar unificada com o MST de José Rainha¿, advertiu o presidente do Sindicato dos Empregados Rurais Assalariados de Presidente Prudente e Região, Rubens Germano. Como membro da direção estadual da CUT, diz que o sindicato tem autonomia para agir.
Apesar disso, os sem-terra ligados ao Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Sintraf) da região de Andradina deixaram ontem a Fazenda Cachoeira, em Itapura, próximo à fronteira com Mato Grosso do Sul. O presidente José Carlos Bossolan disse que foi apenas um recuo estratégico. ¿Não dependemos do aval da CUT e vamos manter nossa pauta de ocupações na região.¿ Alguns dirigentes atribuíram o recuo à disposição anunciada pela União Democrática Ruralista (UDR) de responsabilizar a CUT pelas invasões. A central sindical é constituída juridicamente, ao contrário do MST.