Título: Bispo retoma polêmica sobre obra no São Francisco
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2007, Nacional, p. A4

O bispo de Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio, protocola hoje no Palácio do Planalto uma carta cobrando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva um debate público sobre o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco.

Em 2005, Cappio ficou conhecido no País por ficar 11 dias em greve de fome contra as mudanças no curso do rio. A obra, que ficou inviabilizada por meio de liminares na Justiça, é uma das prioridades do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.

A greve de fome de Cappio, numa capela de Cabrobó, no semi-árido pernambucano, levou o governo a suspender o início das obras. Depois, a Justiça impediu os trabalhos dos técnicos. Numa audiência no Palácio do Planalto no dia 15 de dezembro de 2005, Lula disse ao bispo que estava aberto ao debate sobre a transposição, mas não iria deixar de fazer as obras.

À época, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Santa Sé criticaram Cappio pela greve de fome. O religioso disse em entrevistas que não temia ameaças, especialmente do Vaticano.

Cappio conta agora com o apoio de dois governadores aliados de Lula. Jacques Wagner (Bahia) e Marcelo Déda (Sergipe) avisaram ao Planalto que não aceitam a transposição. Lula costuma dizer que Bahia e Sergipe deveriam olhar mais para o problema da falta de água em Estados como Ceará e Rio Grande do Norte, que seriam beneficiados com o projeto do São Francisco.

Em janeiro passado, numa visita à cidade cearense de Crateús, o presidente voltou a defender as obras. ¿Não é possível que milhões de brasileiros continuem vendo seu cabritinho morrer, vendo as famílias passarem necessidade, porque não tem água. Então nós vamos fazer agora¿, afirmou, à época, o presidente.

Na carta, segundo pessoas próximas do religioso, Cappio observará que setores do próprio governo não mencionam a transposição como alternativa para acabar com a falta de água no semi-árido. O bispo conta com o apoio de entidades da área do meio ambiente. Ambientalistas e lideranças comunitárias argumentam que o projeto do governo não contempla a revitalização do São Francisco e medidas para conter a destruição da vegetação das margens do rio.