Título: Ludwig deixa Hospital do Câncer
Autor: Westin, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2007, Vida&, p. A12

Uma das mais bem-sucedidas parcerias do País na área médico-científica chegou ao fim. Depois de 23 anos, o Hospital do Câncer e o Instituto Ludwig deixaram de trabalhar juntos, em São Paulo, em pesquisas sobre o câncer. Neste momento, o Ludwig está desmontando seus escritórios e laboratórios do Hospital do Câncer e mudando-se para o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, também em São Paulo.

O Instituto Ludwig é uma das mais importantes instituições internacionais de estudos oncológicos, com nove filiais espalhadas pelo mundo. A sede fica em Nova York. Na América Latina, a única filial é a de São Paulo.

O ¿divórcio¿ começou em dezembro de 2005, quando o médico Ricardo Brentani - que acumulava as direções do Hospital do Câncer e do Ludwig no Brasil - teve de deixar o instituto. Quando chegam aos 65 anos, os diretores das filiais do Ludwig precisam se aposentar. O próprio Brentani indicou um nome para sucedê-lo, o da pesquisadora Luisa Villa, que foi aceito.

Tradicionalmente, o Instituto Ludwig aproveita essas mudanças para analisar novas estratégias de crescimento. No caso do Brasil, o que impedia o avanço era a infra-estrutura, isto é, os dois andares no Hospital do Câncer haviam ficado insuficientes. O diretor do hospital e a diretora do Ludwig passaram os primeiros meses do ano passado discutindo uma solução. O Hospital do Câncer disse que não poderia oferecer mais espaço. Diante do impasse, chegou-se a cogitar em Nova York o fechamento da filial do Ludwig no Brasil. Por problemas semelhantes na década passada, a unidade de Berna, na Suíça, foi extinta.

¿Deixei claro que queríamos que permanecessem, mas acharam mais interessante buscar outras parcerias¿, diz Brentani, que dirigiu a filial de 1983 a 2005.

A notícia logo se espalhou pelo mundo médico, e Luisa Villa foi procurada por importantes hospitais e escolas médicas de São Paulo interessadas em abrigar o instituto. A proposta mais vantajosa foi a do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. ¿Para o bem da ciência, o Ludwig continuará no Brasil¿, afirma Luisa.

O Ludwig ganhou um andar inteiro num prédio recém-inaugurado do hospital, pelo qual não precisará pagar aluguel, ao contrário do que ocorria no Hospital do Câncer. Além disso, o Oswaldo Cruz está realizando todas as reformas necessárias para a chegada dos laboratórios.

A mudança começou há dois meses, quando o setor administrativo do Ludwig deixou o Hospital do Câncer. A saída dos laboratórios deverá ocorrer até setembro. O Hospital do Câncer construirá quartos para pacientes nos dois andares até então ocupados pelo Ludwig.

O Hospital Oswaldo Cruz investiu na parceria com o Instituto Ludwig porque pretende deixar de dedicar-se somente ao atendimento de pacientes. Quer entrar nas áreas de pesquisa e ensino. Um dos objetivos concretos do hospital é criar um curso de pós-graduação (especialização) em oncologia.

O Instituto Ludwig e o Hospital do Câncer ainda não decidiram se manterão uma cooperação científica, para a realização de pesquisas esporádicas.

O INSTITUTO LUDWIG

Criação: O Instituto Ludwig de Pesquisa para o Câncer foi criado em 1971 pelo bilionário americano Daniel K. Ludwig. Tem filiais nos EUA (Nova York e San Diego), Inglaterra (Londres), Bélgica (Bruxelas), Suíça (Lausanne), Suécia (Estocolmo e Uppsala), Austrália (Melbourne) e Brasil (São Paulo)

Filial: Chegou ao País em 1983, ao firmar parceria com o Hospital do Câncer. Foi com o apoio do Ludwig que o hospital entrou nas áreas de pesquisa e ensino - a pós-graduação tem nota máxima no MEC

Produção nacional: A filial brasileira participou de trabalhos reconhecidos internacionalmente, como o seqüenciamento do genoma da Xylella fastidiosa e a demonstração da eficácia da vacina contra o HPV (vírus do câncer de útero)

Números: Tem no País 60 funcionários, incluindo cientistas. O orçamento de 2007 é de R$ 10 milhões