Título: PT desiste de divulgar lista de cargos pretendidos
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/02/2007, Nacional, p. A5

A Executiva Nacional do PT decidiu ontem manter a indicação da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy para o Ministério das Cidades, mas, enquadrada publicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mudou de estratégia. Para evitar novos confrontos com os partidos da base aliada e mais constrangimentos a Lula, aborrecido com a pressão petista pró-Marta, a cúpula do PT preferiu não divulgar a lista de cargos cobiçados pelo partido.

O recuo tático ocorreu depois que Lula desmarcou a reunião com a comissão política do PT, anteriormente prevista para hoje, e manifestou sua contrariedade com as cobranças. O presidente está irritado porque a insistência do PT em encaixar Marta em Cidades criou uma saia-justa para ele em relação ao PP, que comanda o ministério.

Em conversas privadas, Lula tem dito que, por ser o partido do presidente, o PT 'deveria ser mais generoso e dar o exemplo', em vez de cotoveladas. O PP promete reagir à ofensiva petista, se for mesmo desalojado de Cidades e 'empurrado' para a Agricultura. O troco anunciado diz respeito a votações de interesse do governo, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Atualmente, o PP tem 42 deputados.

'Nós fizemos um debate sobre o conjunto dos espaços de governo e vamos tratar desse assunto com o presidente, até para não haver nenhum tipo de constrangimento e para que não se fique especulando com nomes e situações', disse o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), após seis horas de reunião da Executiva petista. Questionado sobre a mudança de estratégia, Berzoini desconversou: 'Não foi recuo. Foi só um debate político sobre como tratar essa questão.'

PINHEIRO

Além de Marta para Cidades, a cúpula do PT aprovou uma lista contendo outras sugestões para o primeiro escalão. Entre os nomes conhecidos está o deputado federal Walter Pinheiro (BA) para Desenvolvimento Agrário. A troca, no caso, seria doméstica, pois o ministério já é controlado pela facção de esquerda Democracia Socialista com Guilherme Cassel.

Ainda na seara petista, o PT indicará os ex-deputados Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), Renato Simões e a deputada federal Iriny Lopes (ES) para a Secretaria de Direitos Humanos, hoje administrada por Paulo Vannucchi, filiado ao partido, que pediu para deixar o cargo.

A corrente Movimento PT vai sugerir o deputado Geraldo Magela (MG), ex-presidente do Banco do Povo, para a articulação política do governo, no lugar do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que será transferido para a Justiça.

Tendência de 'centro' no espectro ideológico do PT, a facção - que abriga o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (SP) -, sabe, porém, que sua proposta é apenas para marcar posição. Hoje, há dois nomes cotados para a cadeira de Tarso: o do ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, e o do ex-governador do Acre Jorge Viana.

Apesar dos protestos nas fileiras do PP, o líder do partido na Câmara, Mário Negromonte (BA), preferiu não comentar a decisão da cúpula petista. 'Para nós, a palavra do presidente é a que basta e ele nos garantiu a permanência em Cidades', disse o deputado.

APETITE

De olho na pasta da Agricultura, hoje nas mãos do PT, o PTB do deputado Nélson Marquezelli (SP) também está aborrecido com o apetite petista. Na prática, a demora do presidente em promover a reforma ministerial está provocando ruidosa disputa na base de sustentação do governo.

A conversa de Lula com os petistas - definida pelo próprio presidente como 'a mais difícil de todas' - ainda não foi marcada, mas deve ocorrer nos próximos dias. 'Não queremos criar dificuldades na base aliada. Falar sobre ministérios e nomes é sempre complicado', admitiu a deputada Maria do Rosário (RS), segunda-vice-presidente do PT.

Na tentativa de mudar de agenda, a Executiva do PT também divulgou ontem que lançará uma campanha em defesa da reforma política no Congresso. 'Queremos aprovar a fidelidade partidária, o financiamento público das campanhas e o fim das coligações proporcionais', argumentou Berzoini.