Título: Cabral apóia Jobim contra Temer no PMDB
Autor: Tosta, Wilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/02/2007, Nacional, p. A6

Em campanha pelos votos dos convencionais fluminenses, o deputado Michel Temer (SP) e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim (RS) acirraram ontem a disputa pela presidência do PMDB em atos marcados por briga velada entre o governador Sérgio Cabral Filho e o ex-governador Anthony Garotinho, presidente regional do partido. As duas manifestações, originalmente concebidas para lançamento das candidaturas no Rio, viraram sessões de discussão dos problemas do partido, incluindo acusações de Jobim a Temer, por ter supostamente quebrado um acordo ao se lançar candidato, e ataques de Garotinho ao comando peemedebista por um suposto 'golpe' contra sua candidatura à Presidência em 2006. 'Traição', 'lealdade' e 'apunhalado pelas costas' foram expressões usadas nos discursos.

'Qual é o projeto estratégico do partido?', perguntou Jobim, que tem o apoio de Cabral, na segunda reunião do dia, promovida à tarde pelo governador no Hotel Guanabara. 'Ou seremos um partido nacional ou estaremos condenados pragmaticamente a sermos meros assistentes do processo nacional.'

Em discurso, Jobim afirmou que desde 1989 o PMDB perdeu expressão nacional, mantendo força só nos Estados, e acusou Temer, que preside a legenda há cinco anos, de nada ter feito para mudar a situação. O ex-ministro afirmou que só admitiu ser candidato 'não de um grupo, mas de um conjunto'. Disse que, depois de conversar com Temer, no ano passado, ouviu dele que esperassem fevereiro, para que a candidatura não parecesse de confronto. Jobim contou ter aguardado fevereiro - e encontrou a candidatura de Temer posta.

Garotinho - que apóia Temer, mas foi ao ato pró-Jobim como presidente do PMDB local - foi irônico com o ex-ministro. 'Ouvindo o senhor falar aqui, e não fosse uma pessoa vacinada, eu até votaria no senhor. Mas acontece que as forças que lhe apóiam são justamente aquelas forças que não queriam projeto, não queriam programa, não queriam democratizar o PMDB, que nós queremos. Então, me perdoe, seu discurso é empolgante, mas ainda sou adepto daquele velho discurso: 'diga com quem andas, que te direi quem és'.' Na saída, Jobim respondeu. 'A recíproca é verdadeira.'

ATAQUES

Mais cedo, no ato de apoio a Temer, o ambiente de disputa envolveu mais diretamente Garotinho e Cabral. Em divergência com o governador, que se aproximou do governo federal e está desmontando parte dos programas sociais lançados por ele e sua mulher, Rosinha Garotinho, o ex-governador fez um discurso pontuado por insinuações.

'Seria uma ingratidão muito grande da minha parte, neste momento, em que vossa excelência disputa a presidência do partido, eu não apoiá-lo. Vossa excelência não vai olhar para mim e encontrar aqui um ingrato.' Foi quando a presidente da Juventude do PMDB do Rio e filha de Garotinho, Clarissa Matheus, gritou: 'Basta de ingratidão.'

Em meio ao ambiente de constrangimento, o governador respondeu. 'Há sempre aqueles que gostam de crescer na divisão', afirmou, dirigindo-se a Temer, no ato na sede do PMDB. 'Não é o seu caso. Há sempre aqueles que gostam de crescer na diversão. Não é o seu caso.'