Título: Países preparam novas sanções ao Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/02/2007, Internacional, p. A10

Seis grandes potências concordaram ontem em elaborar uma nova resolução no Conselho de Segurança (CS) da ONU para pressionar o Irã a paralisar seu programa nuclear, apesar de fazer a ressalva de que, paralelamente, continuarão buscando uma solução diplomática.

Representantes da Alemanha e do grupo formado por EUA, China, Rússia, Grã-Bretanha e França - os cinco membros permanentes do CS - se reuniram ontem, em Londres, para discutir qual será sua resposta à recusa do Irã em suspender seu programa de enriquecimento de urânio, descumprindo um ultimato da ONU que venceu na semana passada.

¿Começamos a trabalhar em uma nova resolução¿, disse o assessor político do Ministério de Relações Exteriores britânico, John Sawers, que representou seu país no encontro. ¿Também discutimos qual a melhor forma de retomar o contato com o Irã, porque ainda estamos comprometidos com a busca de uma solução negociada¿, completou.

O Departamento de Estado americano confirmou que os seis países concordaram que devem ser impostas mais sanções contra Teerã e anunciou que seus representantes participarão de uma teleconferência na quinta-feira para traçar as linhas gerais da nova resolução. ¿Os EUA continuam a trabalhar com seus aliados para deixar claro ao Irã que ele pagará um preço se seguir no caminho que leva às armas nucleares¿, disse o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow.

Pouco antes do encontro, o chanceler russo, Serguei Lavrov, manifestou suas preocupações com a possibilidade de os EUA - que recentemente enviaram um segundo porta-aviões para o Golfo Pérsico - realizarem uma ação militar contra Teerã. ¿Estamos preocupados porque são cada vez mais freqüentes as especulações em torno de um possível ataque ao Irã¿, afirmou Lavrov.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de uma nova ofensiva no Oriente Médio, na sexta-feira, o vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, respondeu que ¿todas as opções serão consideradas¿. A ameaça, porém, não fez as autoridades iranianas baixarem o tom. Ainda ontem, parlamentares do país anunciaram que pretendem destinar US$ 1,4 bilhão do orçamento do ano que vem para a construção de novas usinas nucleares.

O governo iraniano diz que o objetivo de seu programa nuclear é produzir energia elétrica, mas os EUA e parte da comunidade internacional suspeitam que ele esteja interessado em fabricar bombas. Há cinco dias, após o fim do ultimato para que Teerã colaborasse, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) divulgou um relatório segundo o qual o Irã acelerou seu projeto para produzir urânio enriquecido (um combustível nuclear), em vez de paralisá-lo, como exigia o CS. Foi a afronta que abriu espaço para a imposição de sanções mais duras contra o país do que as adotadas em dezembro, em outra reunião do CS.

Na ocasião, a China e a Rússia, que mantêm fortes laços comerciais com Teerã, só permitiram a adoção de sanções limitadas, como a proibição da venda para o Irã de materiais e tecnologia que poderiam ser usados na fabricação de mísseis e armas atômicas. Dessa vez, uma das possibilidades consideradas, segundo um diplomata britânico, é o corte de US$ 20 bilhões em créditos à exportação, disponibilizados por agências européias para financiar o comércio com o Irã.