Título: Lula adia reforma ministerial mais uma vez por causa do PMDB
Autor: Oliveira, Clarissa e Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2007, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende adiar novamente a reforma ministerial. Em conversa com dirigentes e líderes de PSB e PC do B, ontem, Lula disse que vai aguardar a convenção nacional do PMDB, em 11 de março, para só então promover as trocas na equipe do segundo mandato. Sua justificativa: quer saber com que fatia peemedebista poderá negociar de agora em diante, já que duas correntes disputam o comando do partido - uma liderada pelo atual presidente, deputado Michel Temer (SP), e outra integrada por seu desafiante, Nélson Jobim (RS).

Os socialistas querem manter os ministérios da Integração Nacional e da Ciência e Tecnologia. Eles levaram ao encontro uma lista com os orçamentos de cada um dos 34 ministérios e o valor dos investimentos de que cada partido disporia. Mas, diante da preocupação de Lula com o PMDB, saíram do encontro sem saber qual será o espaço do PSB no governo. Bem-humorado, Lula revelou ter deixado o PT por último nas conversas, por saber que ¿essa será a negociação mais difícil¿.

¿O PT quer que a Marta venha para o governo, mas estou enfrentando dificuldades¿, afirmou Lula, segundo relato de participantes da reunião, numa referência à pressão petista para encaixar a ex-prefeita Marta Suplicy no primeiro escalão. Na conversa, testemunhada pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, Lula fez elogios aos ministros da Educação, Fernando Haddad (PT), e das Cidades, Márcio Fortes (PP). As duas pastas são cobiçadas pelo grupo de Marta.

¿Como eu resolvo a questão do PP, que já tem trabalho consolidado em Cidades, para atender a outra demanda?¿, perguntou o presidente. ¿Como vou trocar nomes ou partidos que compõem a coalizão?¿ No Palácio do Planalto, porém, interlocutores do presidente asseguram que Marta ocupará a cadeira de Cidades e que Fortes será remanejado para Agricultura.

No início da noite de ontem, o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), disse que o partido deverá manter a indicação de Marta. A sugestão depende de aprovação da Executiva Nacional da sigla, que se reúne no dia 26, mas o deputado afirmou haver ¿ampla concordância¿ de que se trata de um dos melhores nomes para o governo.

Setores do partido acreditam na possibilidade de a indicação de Marta ser revista, caso o presidente ¿mande um recado¿. Aliados da ex-prefeita teriam exagerado no esforço para colocá-la no governo e criado situação ¿desconfortável¿. Circula ainda a preocupação com as chances de Marta descumprir o acordo de não abandonar o ministério para disputar a Prefeitura de São Paulo, em 2008, plano que ainda não é descartado por aliados dela.

Nos encontros de ontem, Lula desconversou quando questionado se a Integração Nacional poderia sair do domínio socialista e ir para o PMDB. No partido, o comentário é que caminham bem as negociações para que o deputado Geddel Vieira Lima (BA) seja ministro. ¿Não fechei nada ainda¿, disse Lula. O presidente admitiu que gostaria de ter de volta à pasta Ciro Gomes (PSB-CE), hoje deputado. Ciro alegou, porém, que prefere ficar na Câmara.

PARALISIA

O adiamento da reforma reforçou na Esplanada dos Ministérios a sensação de paralisia. Na Justiça, por exemplo, o demissionário Márcio Thomaz Bastos tem se limitado a despachos internos, enquanto alas de delegados da Polícia Federal lutam para pôr no cargo de diretor-geral pessoa do interesse delas. O número de operações caiu: em novembro e dezembro, a PF fez 45 - o equivalente a uma por dia útil; em janeiro e fevereiro, foram apenas oito operações - uma por semana.

Sem muito o que fazer, pois há exatamente um mês encaminhou ao Congresso as medidas provisórias e projetos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, tirou férias de seu cargo de gerente do governo. O recesso termina na sexta-feira, dia 2, o que a levará de volta ao trabalho no dia 5.

No Desenvolvimento, o ministro Luiz Fernando Furlan retornou de seu terceiro período de férias em menos de dois meses. Ele aguarda apenas a nomeação do substituto. ¿Vou conversar com o presidente durante a viagem ao Uruguai, no domingo¿, disse ontem o ministro. ¿Será uma conversa aérea¿.

A disputa em torno da pasta de Cidades contribuiu para que o ministro Márcio Fortes saísse de férias. Ele volta na próxima segunda-feira. Outro que preferiu gozar as férias a esperar a definição do presidente foi o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau. Ele entrou de recesso no dia 21 e retorna ao trabalho no dia 5. Protegido do senador José Sarney (PMDB-AP), Rondeau deverá seguir no cargo.

PAC

Além dos encontros políticos, a agenda do presidente Lula incluiu ontem a assinatura do decreto que cria a Política Nacional de Desenvolvimento Regional. No evento, ele disse que ¿há um desequilíbrio estrutural no desenvolvimento¿ brasileiro. O PAC ¿foi pensado para vencer essas diferenças¿, afirmou.

Lula disse que está com ¿uma lupa¿ acompanhando a execução de todos os projetos do plano e que o programa não terá o mesmo fim de projetos de governos anteriores que eram anunciados e não saíam do papel.