Título: EUA acham centro de terror químico
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2007, Internacional, p. A9

Tropas americanas descobriram ontem, na cidade de Faluja, uma fábrica clandestina de armas químicas com dezenas de tanques com substâncias tóxicas. No armazém também foram encontrados carros e caminhões que estavam sendo reformados para carregar cilindros de gás propano e de outros elementos tóxicos. Os militares suspeitam que o local era usado para preparar os veículos para ataques químicos. No último mês, três atentados com caminhões carregados de gás de cloro mataram 30 civis e deixaram mais de 200 feridos, a maioria por envenenamento.

Autoridades dos EUA e do Iraque indicaram que os ataques químicos representam uma mudança nas táticas dos insurgentes. ¿Eles estão tentando criar novos ataques, mas a estratégia é a mesma: injetar mais medo na sociedade iraquiana e dividi-la ainda mais¿, disse o general William Caldwell, porta-voz do Exército americano no Iraque.

O general afirmou, entretanto, que a estratégia dos terroristas de intensificar suas ações ¿saiu pela culatra¿. Segundo ele, ¿a opinião pública se voltou contra os insurgentes de tal modo que nos últimos seis meses o número de denúncias e delações feitas por civis dobrou¿.

Ainda estão hospitalizadas mais de 60 das 150 pessoas que ficaram feridas ou envenenadas com a explosão de um caminhão com cloro na terça-feira, em Taji, que matou 9 civis. No dia seguinte, outro ataque semelhante em Bagdá deixou cinco mortos e 75 feridos.

Altamente tóxico, o gás de cloro irrita a pele e os olhos, e causa falta de ar. Se for inalado em grandes quantidades, pode queimar o tecido do pulmão e matar.

As tensões sectárias aumentaram ontem no país, com a denúncia de uma mulher sunita da cidade de Tal Afar de que foi estuprada por policiais xiitas. No domingo, outra sunita, de Bagdá, havia feito a mesma acusação. O caso inflamou os conflitos entre xiitas e sunitas e chegou ao governo iraquiano. Há dois dias, o primeiro-ministro Nuri al-Maliki demitiu quatro funcionários, entre eles um sunita que havia pedido uma investigação internacional sobre o assunto. Maliki, que é xiita, alega que a mulher não sofreu abusos e que estaria inventando a história para difamar os xiitas.

A segunda vítima, que tem 50 anos, revelou que foi estuprada por quatro policiais. Afirmou ainda que eles tentaram abusar de suas duas filhas. Segundo Nijm Abdulla, prefeito de Tal Afar, o ataque ocorreu há 11 dias, quando a polícia patrulhava a região. A princípio, os acusados - um tenente e três soldados - negaram o crime. Quando confrontados com a vítima, porém, eles confessaram o estupro, e foram presos.

Duas milícias iraquianas (uma delas ligadas à Al-Qaeda) pediram ontem que os sunitas se vinguem pelos casos de abusos sexuais. ¿Condenamos os ataques contra a honra de nossas irmãs¿, disse o líder do grupo Estado Islâmico em uma gravação de áudio divulgada na internet. ¿Vocês irão presenciar nossa vingança¿, afirmava um comunicado da outra milícia, o Exército Mujahedin.

A violência sectária no Iraque foi desencadeada há um ano, quando um ataque da Al-Qaeda destruiu a mesquita de Samarra - a mais sagrada para os xiitas. Muitos iraquianos acreditam que a reconstrução do templo ajudaria na reconciliação da população, mas a obra não começou por causa de disputas sobre como ela será conduzida. O local da mesquita está fechado e é vigiado dia e noite.

DEMOCRATAS

Dispostos a desafiar o presidente George W. Bush, os senadores democratas começaram a preparar um projeto de lei que limitará a missão das forças americanas no Iraque, revogando a autorização para a guerra concedida pelo Congresso em 2002, disseram ontem fontes oficiais.