Título: Dívida interna recua para R$ 1,08 tri
Autor: Fernandes, Adriana e Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2007, Economia, p. B4

A dívida interna em títulos do governo caiu R$ 5,6 bilhões em janeiro, recuando para R$ 1,08 trilhão. A queda, porém, ocorreu por motivos sazonais que levaram o Tesouro Nacional a resgatar mais papéis do que o volume ofertado no mês. Apesar do processo de queda da taxa Selic, os juros continuam pesando na estoque da dívida interna em títulos do governo federal. Só em janeiro, o impacto chegou a R$ 12,5 bilhões.

A dívida externa também caiu R$ 2,9 bilhões no mês passado, atingindo R$ 140,5 bilhões. O recuo refletiu sobretudo a valorização do real ante o dólar. Segundo o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Ronnie Tavares, o ganho do Tesouro com a desvalorização do dólar superou o montante de juros que deveriam ser somados ao total da dívida externa. A queda do dólar também tem ajudado a reduzir o custo médio da dívida externa.

Foi a primeira vez que o Tesouro divulgou dados completos da dívida pública federal (interna e externa). Até agora, o relatório mensal tinha dados apenas da dívida interna. A dívida total fechou janeiro em R$ 1,22 trilhão, R$ 8,5 bilhões a menos que o estoque de dezembro.

CUSTO

Em meio ao debate entre os analistas econômicos sobre o custo do governo para reduzir o risco de financiamento da dívida, Tavares destacou que o custo médio acumulado em 12 meses fechou janeiro em 14,63% ao ano, mais baixo do que a Selic acumulada em 12 meses, de 14,69%.

Segundo Tavares, isso está ocorrendo mesmo com a ampliação, nos últimos meses, da parcela de papéis prefixados e vinculados a índices de preços, que funcionam como um seguro para o Tesouro, por darem maior previsibilidade aos desembolsos futuros das dívida.

¿Quando compramos um seguro, teoricamente deveríamos pagar por ele, mas o que temos visto é que o custo da dívida ainda é inferior ao da LFT, (título vinculado à Selic), que não gera nenhuma proteção para o Tesouro¿, destacou.

¿O Tesouro tem hoje na composição da dívida vários títulos que protegem contra choques e ainda assim, no acumulado, o custo está inferior ao da Selic. Pode ser pouco, mas é inferior¿, afirmou. O custo médio é calculado com base na taxa de juros paga pelo Tesouro por título.

RESGATES

A dívida interna, que tem sido mais observada pelos analistas depois que o governo conseguiu reduzir significativamente o endividamento externo, só não subiu em janeiro porque no início de cada trimestre o volume de vencimentos é sempre elevado. Para não pressionar o mercado, o Tesouro não refinancia todos os papéis que estão vencendo. Por causa disso, no balanço de emissões e resgates, o Tesouro retirou do mercado em janeiro R$ 18,2 bilhões em papéis, reduzindo o estoque.

Esse movimento prejudica temporariamente o perfil da dívida, com o aumento da parcela de títulos com remuneração pela Selic e a redução dos prefixados. A participação dos prefixados na composição da dívida interna caiu de 36,13% em dezembro de 2006 para 34,53% em janeiro de 2007. Já as LFTs (atreladas à Selic) subiram de 37,83% para 38,9%. Segundo Tavares, esse fator sazonal se ajusta com a retomada da tendência de alta dos prefixados.

¿A prefixação é o caminho natural porque reduz o risco do Tesouro em caso de choques na economia como aumento dos juros e depreciação cambial¿, disse Tavares.