Título: Evo leiloa projetos gasoquímicos
Autor: Brito, Agnaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2007, Economia, p. B6

O presidente da Bolívia, Evo Morales, decidiu negociar vários projetos de industrialização do gás natural de seu país mesmo sem matéria-prima suficiente. O plano é usar o gás não apenas como combustível, mas também de insumo para a indústria petroquímica. O processo de industrialização é o próximo passo do plano de nacionalização do setor, anunciado em maio de 2006.

O ministério de Hidrocarbonetos da Bolívia já fechou três pré-acordos para processamento do gás, além anunciar a aproximação com a brasileira Braskem, cuja direção irá a La Paz em março para detalhar o seu projeto para a formação de um pólo gasoquímico na fronteira entre os dois países.

A Bolívia tem um pré-acordo com a PDVSA, estatal do petróleo da Venezuela, e com a Enarsa, estatal petrolífera argentina. Ontem, o governo boliviano fechou mais um acordo com a russa Gazprom, a maior fornecedora de gás natural da Europa.

Com a PDVSA, o plano é construir uma unidade separadora em Río Grande, em Santa Cruz de la Sierra. Significava que o projeto poderia retirar do gás comprado pelo Brasil as partes nobres do combustível. Agora, não se sabe o que acontecerá com esse projeto depois que o governo Lula aceitou criar um aditivo ao contrato de importação de gás, a partir do qual a Petrobrás se compromete a pagar mais por essas mesmas frações de etano, butano, propano e gasolina natural.

Foi a partir dessa decisão que o negócio começou a favorecer a Braskem, que tem um projeto antigo para o aproveitamento da molécula de etano até agora não aproveitada pelo Brasil.

O projeto da Braskem, segundo Alexandrino de Alencar, vice-presidente de Relações Institucionais, prevê a construção de uma unidade para produção de 700 mil toneladas de polietileno por ano. O negócio chegou a ser apresentado à comitiva boliviano no Palácio do Planalto, na semana passada, durante a visita oficial de Evo ao País.

A própria Braskem admite que não existe gás natural na Bolívia suficiente para todos os empreendimentos na mesa. ¿São pré-acordos. Eles vão ficar com o melhor¿, avalia Alencar. A Braskem acredita que a sua proposta tem como vantagem o fato de criar uma pólo petroquímico.

Alencar disse, entretanto, que as conversas estão na fase inicial e estudos ainda deverão ser feitos para avaliar a viabilidade econômica do empreendimento. O investimento pode chegar a US$ 1,5 bilhão e, se viabilizado, pode criar uma nova Camaçari na fronteira. ¿O local é ainda uma das indefinições¿, explicou.

ARGENTINA

O contrato de compra de gás pela Argentina, que elevará, em 2009, de 7,7 milhões de metros cúbicos por dia para 27,7 milhões de m³, prevê a industrialização do gás natural. Pelo acordo, a Argentina financiará todo o empreendimento e terá direito a comercializar metade da produção da unidade.

A estrutura ficará no lado boliviano e a instalação será de propriedade da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB).