Título: Mãe não reconheceu voz de filho
Autor: Godoy, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2007, Metrópole, p. C1

- Mãe, sou eu, disse Marcos. - Onde você está? - Em casa. - Não pode ser. Você estava gritando, chorando, sendo espancado.

Marcos, de 31 anos, tentou convencer a mãe pelo telefone, mas não teve jeito. Ela não acreditou que o filho estivesse bem. A aposentada Joselma, de 63 anos, queria embarcar para o Rio e não deu bola para a ligação. Marcos estava com policiais militares que foram acordá-lo em casa para provar à mãe que ele estava bem. Não teve jeito. Ele embarcou na viatura e foi levado pelos PMs ao Aeroporto de Congonhas.

O analista de sistemas contou sua história ontem no quartel do Comando Geral da Polícia Militar. Sua presença ali demonstrava a importância que o golpe do falso seqüestro ganhou para a polícia. São raríssimos os casos em que o Comando Geral resolve se manifestar.

A história de Marcos começou à 1 hora, quando Joselma atendeu a um telefonema a cobrar em casa. ¿Mãe, mãe, eu tô seqüestrado. Me ajuda!!!¿ A aposentada não teve dúvida: era a voz de seu filho. Em seguida, o falso seqüestrador apareceu. Com forte sotaque carioca, dizia: ¿Olha só, nós vamos matar o seu filho.¿

O bandido exigiu US$ 30 mil para libertá-lo. ¿Seu filho disse que tem dólar e dinheiro aí na casa.¿ Joselma não tinha. Mandaram que ela fizesse transferência bancária pela internet. Ela disse que não sabia usar a rede. O criminoso não desistiu. Teve, então, a idéia de mandá-la reunir o que tivesse de valor em casa - jóias e dinheiro - e apanhar um avião para o Rio. Lá, a vítima ia receber instruções para entregar o resgate.

Joselma bem que tentou achar o filho, mas o analista de sistemas, que não tem telefone em casa, esquecera o celular horas antes num shopping - o aparelho só dava caixa postal. Quando a aposentada se preparava para sair da casa, um vigia da rua desconfiou de algo errado e telefonou para o 190. Antes que obtivesse uma resposta, ele apanhou sua bicicleta e foi à sede do 4º Batalhão da PM.

Policiais foram à casa da aposentada, mas ela não quis atendê-los. O desespero falava mais alto. Os PMs apanharam com a empregada o endereço do filho e uma equipe foi até a Vila Madalena, onde ele mora, enquanto a aposentada, que não lhes quis dar ouvidos, seguiu em direção ao Aeroporto de Congonhas. ¿A gente dizia que era golpe, mas ela não acreditava¿, disse o tenente Alexandre Paulino Vieira.

Joselma chegou às 4h30 no aeroporto. Só não embarcou porque não havia vôo. Marcos chegou às 5h10. Joselma chorou e foi atendida no posto médico do aeroporto. O golpe falhara.