Título: Amorim cobra redução de taxa sobre etanol nos EUA
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2007, Nacional, p. A6

O protecionismo americano no setor do etanol estará na mesa de negociações entre os presidentes George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silva no dia 9, quando se encontrarão em São Paulo para firmar o acordo de cooperação em biocombustíveis. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem que a tarifa de importação aplicada pelos Estados Unidos terá de ser reduzida, mesmo que a longo prazo, e os países devem tratar do Haiti como um dos alvos de cooperação para produção de biocombustíveis.

Amorim descartou enfaticamente a possibilidade de Lula se oferecer como intermediário na solução de divergências dos EUA com países da América do Sul - sobretudo Venezuela, Bolívia e Equador. Mas ressaltou que a 'criação de uma relação renovada' entre Brasil e EUA reforçará a possibilidade de um bom relacionamento entre Washington e a América do Sul.

'Não sei se o presidente Bush vem ao Brasil em busca de tranqüilizantes. Vem em busca de cooperação em combustíveis', declarou. 'Não somos intermediários de ninguém, não vamos falar em nome de ninguém. Mas vamos fazer com que essa relação se torne útil para toda a América do Sul', completou.

Segundo Amorim, Lula tratará do protecionismo, mas com extremo cuidado para não pôr em risco a parceria. 'Não tenho expectativa de que, em uma reunião, tudo seja resolvido.' Para o ministro, o tópico mais importante será o trabalho para a adoção de padrões internacionais na produção do etanol, o que permitirá a transformação do produto em commodity energética.

TESTE POLÍTICO

Para o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, a taxa de US$ 0,54 que os EUA cobram por galão de etanol importado não é problema urgente, do ponto de vista econômico. 'Apesar da taxa, nosso álcool entra no mercado americano com preço competitivo. A exportação brasileira em 2006 foi dez vezes maior que a do ano anterior, chegando a 1,76 bilhão de litros.'

Outra razão, prosseguiu, é que nos próximos três ou quatro anos o Brasil não terá excedentes para ampliar a exportação e a principal preocupação será o mercado interno. Apesar disso, diz ele, o Brasil pode levantar o assunto como um teste para sondar a real disposição do governo Bush de definir uma nova realidade para o setor. 'Os americanos poderiam, por exemplo, mostrar disposição para uma redução gradual dessa tarifa, como um gesto político.'

ABDENUR

O chanceler reagiu ontem aos ataques do ex-embaixador nos EUA Roberto Abdenur à política externa de Lula, feitos em depoimento na terça-feira, no Senado. 'Não me chamou a atenção', desdenhou. 'Eu já ouvi tudo o que tinha de ouvir e já disse tudo o que tinha a dizer.'