Título: Rainha cobra do Itesp plano para o Pontal
Autor: Siqueira, Chico
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2007, Nacional, p. A11

Coordenador de 14 invasões no interior paulista desde o carnaval, o líder do Movimento dos Sem-Terra (MST) José Rainha Júnior cobrou ontem do governo estadual o assentamento de mil famílias no Pontal do Paranapanema. Em visita ao acampamento da Fazenda Floresta, invadida sábado, em Araçatuba, ele respondeu ao governador José Serra (PSDB), que disse ao Estado que a ocupação de terras 'não é o caminho para fazer reforma agrária', ao comentar as ações do MST.

'Concordo com Serra. O caminho é o Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) cumprir sua função e trabalhar no assentamento de mil famílias por ano no Pontal; o caminho é fazer cumprir a lei. Não ocupamos porque queremos, mas por necessidade, e nenhuma dessas áreas é produtiva ou é de proprietários particulares', disse. 'Serra fala isso porque não é fruto do nosso meio. Mas o que ele fazia antes, quando participava de movimentos estudantis em favor da liberdade democrática? A nossa luta é democrática.'

Para o líder, o assentamento anual de mil famílias seria a solução para os conflitos no Pontal. 'Se ele fizer isso, a questão se resolve. Mas a proposta foi feita oficialmente há mais de uma semana e não obtivemos resposta.' Rainha explicou que a proposta se baseia no número de famílias assentadas pelo governador Mário Covas na região. Ele voltou a atacar o governo Lula. Disse que o Ministério do Desenvolvimento Agrário não existe e pediu a saída do ministro Guilherme Cassel. 'Não temos um ministério de reforma agrária. Até ocuparmos essas áreas ninguém sabia quem era esse ministro. Se houvesse ministério, haveria ações políticas, com Congresso, Judiciário e Executivo discutindo a reforma agrária', criticou.

Ele afirmou que o governo Lula precisa agir rápido 'para não chegar ao final e ter apenas números para justificar' sua atuação. 'Senão a reforma agrária vira matemática, com números sobre assentamentos, ou então cai na página policial, com a prisão de líderes sem-terra. Ela precisa estar na página de política e isso o governo não vem fazendo. O presidente deve saber a hora de trocar seu ministro.'

O ministério, criticou Rainha, não discute nem as propostas de desenvolvimento dos assentamentos. Como exemplo, citou o projeto de biodiesel previsto para agregar famílias assentadas no Pontal, que há mais de um ano aguarda resposta do Incra.

Ao falar sobre o Pontal, Rainha negou ser contra o agronegócio. 'Não é verdade. As pessoas deturpam minha opinião. Tenho opinião de que nunca vamos conseguir evitar o avanço do agronegócio, mas o que precisamos fazer é evitar a exploração e a miséria no campo.'

Na entrevista, o líder também desafiou a União Democrática Ruralista a apresentar assentamentos abandonados, numa resposta às declarações que o presidente da UDR, Luiz Antônio Nabhan Garcia, deu ao Estado. 'Eu topo, mas vamos ver quanto foi investido de dinheiro público nos assentamentos e quanto foi nas fazendas deles.'