Título: Senado mantém Prodi no poder
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Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2007, Internacional, p. A12

O primeiro-ministro italiano, Romano Prodi, ganhou ontem um voto de confiança do Senado de seu país para continuar no cargo, praticamente assegurando a permanência no poder de sua coalizão de centro-esquerda - que detém ampla maioria na Câmara dos Deputados, onde ocorrerá a próxima votação, nos próximos dias.

¿Este governo é como a Torre de Pisa - se inclina mas não cai¿, definiu o ministro da Justiça, Clemente Mastella, um dos aliados do premiê.

Há nove meses como chefe do governo, Prodi renunciou na semana passada, após perder no Senado uma votação-chave sobre política externa. No domingo, o presidente Giorgio Napolitano pediu a sua permanência no cargo, mas exigiu que ele submetesse seu gabinete ao Parlamento.

Como já era previsto, a vitória foi estreita - 162 senadores votaram a favor do premiê e 157 contra. Em meio à tensão da votação, Prodi respirou aliviado quando recebeu o ¿sim¿ do ítalo-argentino independente Luigi Pallaro, cuja posição ainda era incerta. Quatro dos sete senadores vitalícios (também independentes) votaram a favor do premiê, além de um democrata-cristão, geralmente alinhado com os conservadores.

A votação foi um grande teste para Prodi, cujos aliados contam com 67 cadeiras a mais que a oposição na Câmara dos Deputados, mas no Senado possuem uma maioria de apenas um assento. Seu objetivo ao renunciar era pressionar sua coalizão - um emaranhado de nove partidos cujo espectro político vai desde a esquerda radical até os democratas-cristãos - a agir de forma mais coesa.

Na votação que o levou à renúncia. Prodi viu reprovada uma moção do governo pedindo o apoio do Senado à permanência dos 1.800 soldados italianos no Afeganistão por apenas dois votos, depois do voto contrário de integrantes da esquerda.

Para solucionar a crise, antes de pedir o voto de confiança ao Senado, Prodi prometeu mais diálogo com seus aliados, defendeu uma reforma eleitoral e exigiu que os nove partidos que o apóiam assinassem um termo lhe dando o direito explícito de ter a última palavra.

O premiê não enfrentou dificuldade para conseguir o que queria, pois sua renúncia levaria à realização de eleições antecipadas, num momento em que as pesquisas apontam para um crescimento da popularidade da oposição conservadora.

Os aliados de Prodi e a maior parte dos senadores vitalícios repudiam a possibilidade de uma volta ao poder do ex-primeiro-ministro Sílvio Berlusconi, que em abril perdeu as eleições para o atual premiê por uma diferença de menos de 25 mil votos. Isso garante que Prodi não terá dificuldade de receber o aval para o seu gabinete na Câmara.

O voto de confiança, porém, não garante que a partir de agora será fácil para o primeiro-ministro levar adiante seus projetos para o país - o que fica evidente pelo fato de a votação de ontem ter sido marcada pelas críticas de senadores da coalizão governamental à missão militar no Afeganistão. De acordo com uma enquete do jornal Corriere de la Sera, quase 40% dos italianos acreditam que o governo Prodi durará apenas mais alguns meses, mesmo com o sinal de aprovação do Senado.

¿Esse foi o dia da hipocrisia¿, disse o senador Renato Schifani, do Forza Itália, partido de Berlusconi. ¿Alguns senadores que deram seu voto de confiança hoje votarão contra o governo amanhã¿.

OS DESAFIOS DO PREMIE

Política externa - Conseguir apoio para a missão militar no Afeganistão e a expansão da base militar dos EUA em Vicenza

Família - Levar adiante os planos para reconhecer o casamento gay e as uniões estáveis, que enfurecem setores ligados à Igreja

Pensões - Mudar o sistema italiano de pensões e aposentadorias, cada vez mais caro por causa do envelhecimento da população

Reforma eleitoral - Reformar o sistema eleitoral para acabar com a instabilidade política da Itália, que teve 61 governos desde o pós-guerra

Popularidade - Reverter a queda de popularidade de sua coalizão de centro-esquerda, apoiada por apenas 40% da população, segundo pesquisas recentes

Gastos - Reduzir o déficit público para satisfazer as exigências da União Européia

Parlamento - Obrigar os nove partidos de sua coalizão a agir com coesão. Ele também continuará a enfrentar votações apertadas no Senado