Título: Lula diz que o crescimento não depende da vontade do presidente
Autor: Lacerda, Ângela
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2007, Economia, p. B4

Insatisfeito com a expansão do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB), de 2,9% em 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o crescimento econômico não depende da vontade do presidente ou do governo.

¿O PIB só vai crescer na medida em que se crie uma dinâmica no País em que as pessoas acreditem que as coisas estão sendo feitas com seriedade¿, afirmou, em entrevista à imprensa no complexo portuário de Suape, no município metropolitano de Ipojuca. ¿O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) será cumprido à risca, será fiscalizado, vai acontecer¿, disse o presidente, ao reforçar seu otimismo com relação ao futuro do País.

O presidente disse que o crescimento do PIB foi maior que os analistas previam e menor que o que ele e o Brasil desejavam. E minimizou: ¿Só podemos falar em crescimento hoje porque a economia está arrumada¿.

¿É importante lembrar que, se não estivesse arrumada, estaríamos devendo R$ 15,9 bilhões ao FMI (Fundo Monetário Internacional), teríamos uma dívida pública quase insustentável, não tinha reservas comerciais, não tinha superávit na conta corrente, não tinha aumento da poupança interna, não tinha crédito¿, acrescentou Lula.

¿A gente pode até fazer uma crítica às coisas que aconteceram no passado, mas a gente tem que pensar no futuro¿, disse ele, ao considerar o lançamento da pedra fundamental do pólo petroquímico de Suape, evento que acabara de prestigiar, como ¿a confirmação de que o crescimento é para valer¿.

¿Vamos destravar, vamos diminuir tudo que estiver criando entrave para o desenvolvimento do País¿. Para isso disse contar com o apoio de um conjunto de governadores que pensam como ele, mesmo não fazendo parte da base aliada. ¿Precisamos juntar todos aqueles que estão querendo que o Brasil cresça e se desenvolva, dar as mãos e sair para fazer o Brasil crescer¿. ¿Aqueles que não quiserem, paciência, fiquem num canto chorando, se lamuriando¿.

A necessidade de promover o crescimento do Brasil com justiça social permeou todas as intervenções feitas pelo presidente no Estado. Ele destacou o assunto nos discursos e na entrevista. ¿O Brasil, durante décadas, deixou de utilizar a palavra crescimento como razão de ser dos governantes e eu assumo agora a responsabilidade de fazer do crescimento a mola mestra pela qual as outras coisas irão acontecer no País¿.

Lula fez questão de afirmar que o Brasil é um ¿porto seguro¿ para os investidores nacionais e estrangeiros, diante da solidez da sua economia e das condições oferecidas, e pregou mais competitividade do País no mundo globalizado. Nesse contexto, existe a disposição de fazer o Porto de Suape um dos mais competitivos do Brasil.

Na inauguração da maior fábrica de resina PET (usada na confecção de embalagens de refrigerantes) do mundo, da multinacional italiana Mossi & Ghisolfi, Lula se atrapalhou e chamou de Vitório Guisoli o presidente do conselho administrativo da multinacional, Vitório Ghisolfi. O presidente comentou positivamente a vinda da empresa para o Brasil, especialmente porque há expectativa de que ela venha agregar outras indústrias.

Com o Pólo Petroquímico de Suape, cuja pedra fundamental também foi inaugurada ontem, o presidente ouviu discursos que destacaram as expectativas de início de uma cadeia produtiva que irá estimular o pólo petroquímico e o setor têxtil.

Até 2009 deverão ser instaladas no pólo uma indústria de Ácido Teraftálico Purificado (PTA), da Companhia Petroquímica de Pernambuco (Petroquímica Suape), e uma unidade industrial de polímeros e filamentos de poliéster da Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe). Os empreendimentos representarão investimentos de US$ 542 milhões e US$ 320 milhões, respectivamente.

Acompanharam o presidente os ministros do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, e do Turismo, Walfrido Mares Guia, além do presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli. Após as cerimônias, o grupo almoçou com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), aliado e amigo de Lula, no Palácio do Campo das Princesas.

FRASES

Luiz Inácio Lula da Silva Presidente da República

¿O PIB só vai crescer na medida em que se crie uma dinâmica no País em que as pessoas acreditem que as coisas estão sendo feitas com seriedade¿

¿Só podemos falar em crescimento hoje porque a economia está arrumada. É importante lembrar que, se não estivesse arrumada, estaria devendo R$ 15,9 bilhões ao FMI, teria uma dívida pública quase insustentável, não tinha reservas comerciais, não tinha superávit¿

REAÇÕES

José Serra Governador de São Paulo ¿O crescimento de apenas 2,9% do PIB do País em 2006 deveu-se a vários fatores, mas o principal deles foi a ignorância econômica do Banco Central. O problema do Banco Central não é conservadorismo. Conservadorismo em política econômica eu até aplaudo¿

Paulo Skaf Presidente da Fiesp ¿O baixo crescimento brasileiro decepciona a quem trabalha e produz no País¿

Paulo Pereira da Silva Deputado federal e presidente da Força Sindical ¿Esse PIB raquítico é o resultado da política econômica equivocada, conduzida pelo despachante de luxo dos banqueiros, Henrique Meirelles¿

Antonio Palocci Deputado federal e ex-ministro da Fazenda ¿A economia brasileira hoje está mais consistente. O desafio agora é potencializar o crescimento econômico.¿

Armando Monteiro Neto Presidente da CNI ¿A agenda do desenvolvimento ainda não foi incorporada pelo País. As mudanças ocorridas são insuficientes para alavancar o investimento privado, que é o motor do crescimento¿

Boris Tabacof Diretor do Ciesp ¿A persistência de taxas medíocres de crescimento mostra que o problema brasileiro vai além da pura e simples condução equivocada da política econômica e que é preciso discutir os impasses estruturais do crescimento¿